“O mais importante que você pode fazer por sua carreira é construir uma base sólida para uma reputação atraente”.

David F. D’Alessandro

Ex-CEO da John Hancock Financial Services

Career Warfare, 2003

A maioria dos profissionais ainda acredita que basta seguir as velhas regras e paradigmas do mundo corporativo – trabalhar duro, ser fiel ao chefe imediato, vestir a camisa da empresa, trabalhar longas horas todos os dias, levar trabalho para casa todo final de semana e engolir sapos, entre outros comportamentos – para receber todas as oportunidades para chegar ao topo da hierarquia corporativa. Obviamente tudo isso é necessário ao longo do curso de uma carreira profissional, visto que são requisitos mínimos para sobrevivência nas organizações nos dias atuais. Entretanto, isoladamente, eles não são suficientes para conduzi-los ao sucesso. É necessário muito mais. E esse muito mais, é a consciência de que necessita empreender campanhas de marketing pessoal de alta visibilidade, interna e externamente. No meu livro, Carreira: Que Rumo Seguir? Saiba tudo o que você deve (e não deve) fazer para assumir o controle de sua vida profissional, 2005, escrevi: “[…] Para um profissional avançar na hierarquia de uma corporação é necessário que ele se atire ao “spotligh”. Pode ser que alguns profissionais exagerem, mas de toda forma não se pode subestimar a importância do marketing pessoal de alta visibilidade”. 

Harvey Coleman, consultor norte-americano, diz que baseado em pesquisas pessoais feitas em grandes companhias, chegou a interessantes conclusões sobre a trajetória profissional. Segundo ele, uma carreira de sucesso tem a seguinte composição a longo prazo:

• Desempenho – representa apenas 10%;
• Imagem pessoal – 30%;
• Visibilidade – 60%.

Coleman afirma ainda que bom desempenho é algo que se espera naturalmente de qualquer profissional que aspire ao sucesso. Em grandes organizações, o bom desempenho poderá até ser reconhecido com aumentos salariais, mas não será suficiente para garantir novas promoções. Em um número cada vez maior de empresas, as promoções de um executivo estão diretamente atreladas ao número de pessoas do alto escalão que com ele interagem e também ao conhecimento que elas têm acerca de seu trabalho. Ou seja, em relação a você, o que conta em primeiro lugar não é o que você conhece, mas o que a alta administração conhece a seu respeito. Não podemos ser ingênuos: geralmente, os profissionais mais bem-sucedidos ao longo de sua carreira alcançaram postos de destaque porque souberam gravitar ao redor do centro do poder de decisão. A exposição e a visibilidade frequentes, a que competentemente se submeteram, contribuiu de forma decisiva para seu intento e sucesso.

Os renomados consultores norte-americanos Al Ryes & Jack Trout defenderam posição semelhante no trabalho mundialmente conhecido e consagrado Positioning: The Battle for Your Mind, publicado em 1981. Eles escreveram: “Sua estratégia promocional pessoal baseia-se quase sempre na crença ingênua de que o que conta é a capacidade, e o que vale é trabalhar duro.” E por isso afundam no trabalho e se matam esperando o dia em que alguém vai lhes dar um tapinha nas costas e promovê-los, em reconhecimento dos seus méritos e dos seus esforços.

Esse dia não chegará nunca. A verdade é que o caminho para a fama e para o sucesso raramente se encontra dentro de você. O único jeito certo de conseguir sucesso é arranjar um cavalo para montar. “Isso pode ser duro para o ego aceitar, mas o sucesso na vida baseia-se muito mais no que os outros podem fazer por você do que você pode fazer por você mesmo”, dizem os autores do livro Positioning: The Batlle for Your Mind, Jack Al Ries, Jack Trout e Philip Kotler. Essas considerações se aplicam a todos os níveis da pirâmide organizacional e circunstâncias da vida corporativa, inclusive a busca por um novo posto de trabalho.

Profissionais dedicados, leais e competentes têm sido preteridos em inúmeros processos seletivos simplesmente porque não têm nenhuma visibilidade no mercado de trabalho. São totalmente desconhecidos, descuidam-se de sua imagem pessoal ou a exibem de forma desgastada e não sabem se posicionar quando têm oportunidade de aparecer sob o facho luminoso de um “spotlight”. Pior ainda: é desagradável e extremamente vergonhoso reconhecer, mas há muitos profissionais que incorporam hábitos deselegantes e que ferem as mais elementares expressões de boas maneiras, como usar os dedos para limpar os ouvidos e o nariz durante uma entrevista – um gesto de higiene pessoal que não se coaduna com quem quer que seja, em especial com um profissional.

Além disso, existem muitos profissionais, que após concluída a entrevista durante um almoço, algo bastante comum, não só palitam os dentes à mesa como desfilam gloriosamente em direção à porta de saída, ostentando-o na boca como se fosse um troféu. E há aqueles que, sem nenhum constrangimento, coçam em público os órgãos genitais, numa demonstração de total falta de compostura. Haja falta de educação e de bons modos! Infelizmente são poucos os profissionais que se detêm na análise de aspectos comportamentais desagradáveis e que nada de positivo acrescentam; apenas denigrem o próprio perfil. Muitas vezes, partem da premissa errada de que o importante é apenas ser competente, honesto e criativo. Recusam-se a ver o fato óbvio de que um bom produto precisa de uma embalagem atraente para atingir seu melhor potencial de venda.

Uma rápida avaliação sobre você em um desses momentos significa mais para sua carreira do que uma pilha de um metro de altura de análise de desempenho em seu arquivo pessoal. Portanto, é melhor que você cuide de seu marketing pessoal. Nesse sentido, vale lembrá-lo as palavras do Cristo no famoso e conhecido O Sermão da Montanha: “Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens.” (Evangelho de São Mateus 5.5.13).

Caro leitor, certamente você perguntará: “por que fazer marketing pessoal de alta visibilidade?” Eis alguns dos motivos que justificam a sua prática no dia a dia dos negócios, principalmente quando se procura uma nova posição no competitivo mercado de trabalho:

• A maioria dos profissionais é invisível. Na melhor das hipóteses, a sua visibilidade se restringe apenas ao seu departamento ou, no máximo, à empresa;
• O trabalho duro por si só, como escrevemos anteriormente, não é capaz de alça-lo à voos mais altos;
• É uma oportunidade para você falar ao mercado e ao mundo sobre sua carreira, realizações e objetivos;
• O marketing pessoal de alta visibilidade é aceito com naturalidade e visto como uma necessidade da sociedade da Era da Tecnologia e da Informação;
• Em um mercado cada vez mais exigente e competitivo, o marketing pessoal de alta visibilidade é um fator que explica a diferença entre um profissional meramente competente e outro que ganha milhões de reais e aparece constantemente na mídia como sendo o “guru”, “o executivo do século,” entre outros adjetivos;
• O escopo do marketing é hoje abrangente e utilizado para promover a venda de bens, serviços, pessoas, ideias etc.

Aqui vale registrar as palavras de Orison Swett Marden (1850-1924), escritor e empreendedor norte-americano: “Atire para bem longe de sua cabeça a noção de que você é um empregado. Você está nos negócios por você mesmo, vendendo suas habilidades e competências para seu empregador. Ele é seu cliente… Ele compra tudo que você tem para vender – sua energia, polidez, boas maneiras, cortesia, tato, coragem, iniciativa. Em outras palavras, ele está comprando seu output físico e mental”. (The Man Who Knows How”, 1924).

Esse conceito foi ressuscitado várias décadas depois pelo consultor norte-americano, William Bridges, quando em trabalho mundialmente consagrado escreveu: “Transforme a si mesmo num negócio: você deve ver a si mesmo como uma entidade econômica independente, não como, uma parte componente, procurando por um todo dentro do qual pode funcionar. Por isso é tão importante ver-se como alguém que está rodeado por um mercado, mesmo fazendo parte da folha de pagamento em uma organização. Pense como um fornecedor externo de serviços e adote a mentalidade de vendedor, em vez de pensar como um empregado…” (Dirija Você & Cia. Como um Negócio, 1995)  

Criar um plano de marketing pessoal de alta visibilidade com honestidade, seriedade profissionalismo. Empreender o seu próprio marketing – um produto único – significa:

• Avaliar o que tem de melhor para oferecer a potenciais empregadores – skills, qualidades pessoais, conhecimento e competências adquiridas que você carregará consigo independentemente da organização que estiver;
• Decidir o que você deseja e necessita em seu próprio trabalho;
• Determinar quem necessita do que você tem a oferecer e oferecer o que você necessita.

Sobre este quesito sugiro que meu leitor vá a uma boa livraria, adquira e leia o livro, Marketing de Alta Visibilidade, dos autores norte-americanos, Philip Kotler e Irving Rein.

Como os profissionais podem conquistar notoriedade no mercado de trabalho? Existem inúmeras maneiras para transformá-los em pessoas visíveis e aclamadas pelo mercado:

• Desempenho excepcional. Temos inúmeros profissionais brasileiros que podem ser considerados modelos nesse quesito. Leia jornais e revistas e descubra-os por você mesmo;
• Defesa de uma causa: abraçam com verdadeira paixão a defesa de projetos específicos que beneficiarão a sociedade como um todo e não apenas a sua organização;
• Estilo de vida incomum. Eles desafiam as posições tradicionalistas da sociedade;
• Coincidência: eles estão no lugar certo, na hora certa ou fazem a coisa certa na hora certa. Nesse sentido, vale citar as palavras de Warren Buffett, quarto homem mais rico do mundo: “Ganhei uma ‘loteria ovariana’ por ter nascido com o conjunto certo de características, na família certa, no lugar certo e no tempo certo. Tivesse eu nascido alguns séculos antes ou em algum país em desenvolvimento, minha habilidade para alocar capitais poderia ter sido inútil.” (The Oracle Speaks, 2012).

É notório que muitos profissionais preparados e competentes não avançam em suas carreiras simplesmente porque não valorizam o marketing pessoal. Consequentemente, não fazem o próprio marketing e quando fazem são inconsistentes – as mensagens que divulgam são incoerentes, não investem em novos relacionamentos, evitam a todo custo se exporem publicamente e preferem o anonimato, evitam a imprensa e não sabem como desenvolver e manter um relacionamento saudável, têm medo sobre o que as outras pessoas falarão, não entendem que as ferramentas que ontem eram adequadas e valorizadas nas organizações são hoje ineficazes e condenadas.

Eis algumas recomendações e ações importantes para você fazer seu marketing de alta visibilidade:

• Estabelecimento de redes. Trabalhar em rede não é trabalhar em uma sala nem passar horas inúteis em sites como Linkedin ou Facebook. Significa comparecer a eventos para conhecer potenciais empregadores;
• Ligue para todas as pessoas de seu relacionamento e peça para que o indiquem a um potencial empregador;
• Escolha um grupo de empresas que cumpram os seguintes critérios: desempenho financeiro saudável, tecnologia moderna, filosofia e política de recursos humanos avançados e que necessitam de um profissional como você.
• Cultive permanentemente um bom relacionamento com headhunters;
• Torne-se presente e visível em clubes sociais sindicatos patronais, câmaras de comércio, etc.

Recomendo que você leia o trabalho do jornalista Heródoto Barbeiro, “Mídia Training – Como Usar a Imprensa a Seu Favor”, 2008, e lembre-se da advertência feita pelo renomado poeta alemão, Johann Wolfgang von Goethe, 1749-1832: “O homem que não é posto à prova não evolui”.

São várias as vantagens do marketing pessoal de alta visibilidade para sua carreira. Eis algumas delas:

• Possibilita uma recolocação rápida no mercado de trabalho. Lembre-se que sua transição de carreira demora no máximo 90 dias;
• Ascensão também rápida na organização. O profissional não permanece mais do que dois anos e meio na mesma posição;
• Pacote de remuneração muito superior ao de seus pares;
• Reconhecimento, prestígio e credibilidade interna e externamente;
• Oportunidade para influenciar e enriquecer a vida de outras pessoas.

Caro leitor, ao elaborar o seu plano de marketing pessoas de alta visibilidade observe os seguintes princípios:

• Você não pode ser tudo para todos. Reproduzo aqui as sábias palavras do cardeal Giulio Mazzarino, primeiro ministro da França e tutor do príncipe Luís, futuro Luís XIV, 1602-1661: “Nunca empreendas vários trabalhos, visto que não receberás nenhum aplauso por fazeres muitas coisas; mas por aperfeiçoares apenas à uma delas. E nisso chamo por testemunha a própria experiência”.
• Amplie os horizontes de seu Marketing Pessoal nos limites de sua capacidade e talentos. Cuidado para não se apresentar ao mercado com falsas expectativas e conteúdo. Tal comportamento será fatal. Permita-me valer das palavras do cardeal acima citado: “Esmera-te, com toda a atenção ao redor, naquilo que deve se apresentar de ti em público (ainda que de curta duração), porque de uma única ação depende para sempre a tua fama”.
• Fortaleça seu Marketing Pessoal por meio da construção de alianças estratégicas com pessoas iguais ou superiores a você. Lembre-se de um adágio popular muito conhecido: “Quem tem padrinho não morre pagão”.

Nesse sentido, lembre-se que o projeto mais criativo que você pode empreender é o de sua própria vida. Portanto, comece a trabalhar para criar ou renovar sua vida, de tal maneira que seus valores, objetivos, interesses, filosofia pessoal de trabalho, habilidades e competências se manifestem em sua carreira. Caro leitor, não posso ser mais incisivo sobre a necessidade e a importância do marketing para o avanço de sua carreira.

Se você acha que alguém na sua organização irá promovê-lo, esqueça. É você o responsável pela sua nova contratação e progresso profissional. Você é o dono de seu próprio destino. Portanto, imponha-se um desafio no início de cada dia para melhorar seu histórico de eficiência e visibilidade no que se refere à busca e sustentabilidade de sua carreira. As organizações respeitam os resultados mensuráveis, é verdade. Entretanto, na maioria das vezes, são as qualidades não mensuráveis que contam. Como frisou David F. D’Alessandro, “o que de mais importante você pode fazer por sua busca de trabalho e carreira é construir uma base sólida para uma reputação pessoal atraente, para que, da próxima vez que algum entrevistador pensar no seu nome, tenha uma imagem positiva de você”.

Lute por sua totalidade – desempenho, presença, postura, profissionalismo e imagem irretocável. Acredite em si mesmo. Projete a imagem de um profissional vencedor e não de um profissional que está mendigando um emprego. Mais do que qualquer outra coisa, em sua travessia no deserto, seu marketing pessoal determinará se você conquistará sua nova posição ou não.

Como disse o bem-sucedido empresário norte-americano, Donald Trump, “Às vezes, em meio a uma batalha solitária, manter a autoconfiança e a mente positiva pode ser a força invisível que separa os vencedores dos perdedores. Estes são os que desistem”. (Trump: Never Give Up”, 2008).

A porta da oportunidade, ressalto, é muito estreita e seletiva. Por isso mesmo eu não poderia deixar de chamar sua atenção para os riscos desse empreendimento.

• Profissionais aspirantes à notoriedade se apressam em sua busca pela visibilidade sem antes fazer um reconhecimento de terreno – nível de preparo pessoal, oportunidades ímpares, regras do mercado, resistência de seu meio-ambiente, ameaças de seus concorrentes, realidade do mercado, entre outras questões;
• Torna-se uma celebridade, parece envolver a fabricação de muitas ilusões e transformações. Nesse processo, qualquer profissional pode facilmente perder o controle de sua própria identidade – e perder o contato com si mesmo;
• Tornar-se visível significa que as pessoas não só glorificarão suas ações, mas também magnificarão seus erros e pecados. Os mesmos holofotes que brilham sobre você nos períodos de glória ameaçam brilhar ainda mais por ocasião de seu fracasso e queda.

2 THOUGHTS ON “VOCÊ – UM PRODUTO DIFERENCIADO!”