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Aceite a realidade – Você está em transição de carreira

Gutemberg B. de Macedo

Gutemberg B. de Macedo

Uma história de 40 anos de atuação no mercado, que se solidificou em uma empresa nacional, com filosofia e estratégias globalizadas.

“Expande tua aprendizagem e mantém-te fiel aos teus propósitos; questiona rigorosamente e medita sobre as coisas que se encontram à mão; assim encontrarás a plenitude de tua humanidade”.

Confúcio (551-479 a.C.)

Filósofo e político chinês

Os Analectos, 19.6

O futuro de um profissional em transição de carreira começa no mesmo instante em que ele recebe a comunicação de sua demissão. Daí porque ele jamais deveria se deixar abalar com tal notícia. A demissão deve ser encarada como um episódio natural da carreira como a demoção, a promoção, a transferência de um departamento para outro e o afastamento por motivo de saúde, entre tantos outros. 

Trata-se de um momento para ressuscitar e resgatar todos aqueles sonhos que um dia você sonhou e que, pouco a pouco, foram sufocados pelas pressões do dia-a-dia no trabalho, pelos afazeres diários, pelas preocupações constantes e pelas responsabilidades familiares. É uma grande oportunidade para você se recriar, se energizar, se valorizar, agir mais rápido do que o fez no passado e caminhar de cabeça erguida com propósitos bem definidos. Em outras palavras, é a hora de se sentir seguro de si mesmo e de seu futuro.

Existem inúmeras histórias extraídas do cotidiano da vida corporativa que ilustram essa mudança radical. A primeira nos vem de Mike Bloomberg, fundador da Bloomberg L. P., um dos maiores impérios de notícias econômicas e financeiras do mundo e que se lançou na vida política se elegendo para o cargo de prefeito de Nova York. Quando tinha 41 anos, foi demitido da Salomon Brothers após 15 anos ininterruptos de trabalho. Até ali tinha sido o seu único emprego após a conclusão de seus estudos universitários. Pois bem: 25 minutos depois de receber a notícia de sua demissão, em 1980, ele já sabia o que iria fazer de sua vida. As suas palavras são reveladoras de seu estado de espírito e conduta pessoal: “Eu não gosto de assistir aos outros fazendo coisas. Eu não gosto de assistir ao Tiger Woods jogando golf. Eu quero jogar golf eu mesmo. Eu quero acertar a bola, e não assistir a ele acertá-la”. (Joyce Purnick, Mike Bloomberg – Money, Power, Politics, 2009, pág. 39).

Mike Bloomberg movimentou-se rapidamente e criou em 1981 a Bloomberg L. P., que tem hoje mais de 200 escritórios ao redor do mundo, revenue de 7.6 bilhões de dólares anuais, 15 mil funcionários e destina 100 milhões de dólares anuais para filantropia.

O segundo exemplo é extraído da vida de um ex-diretor de operações da Rohm & Hass para Europa e Ásia, engenheiro de carreira exemplar, experiência internacional e 55 anos de idade. Afastado da organização em virtude de um amplo processo de reestruturação global após a aquisição da empresa pela Dow Chemical Corporation, ele se recolocou em menos de dois meses no mercado de trabalho e em posição superior a que tinha anteriormente numa colossal empresa global de gás e óleo. Esse profissional foi assistido pela Gutemberg Consultores, empresa de consultoria de carreira que comando. Durante esse período, sua conduta foi exemplar, sua atitude extremamente otimista e seus esforços redobrados.

O renomado consultor norte-americano, William Bridges, em seu excelente livro Managing Transitions: Making the Mosto f Chance, de1991, destaca a complexidade da mudança e enfatiza que não se trata de um único e simples acontecimento. Diz ele: “Uma transição compreende um final, depois uma zona neutra e, somente então, um novo começo. Porém, essas fases não são estágios separados por linhas divisórias bem definidas. As três fases de uma transição, em qualquer circunstância, são como segmentos curvos e inclinados. Podem ser, também, sobrepostos.”

Portanto, para você sobreviver a esse momento difícil que pode atingir qualquer profissional, independente de posição hierárquica, é preciso seguir alguns princípios.

1. Não entre em pânico ao tomar conhecimento da notícia de sua demissão. Escute-a, paciente e controladamente. Nunca reaja como uma criança que teve seu brinquedo de estimação roubado, ou seja, chorando, gritando e esperneando. A explosão de sentimentos como raiva, medo, insegurança, decepção, frustração, entre tantos outros, não farão seu superior imediato mudar de opinião a respeito dela. Portanto, procure absorvê-la com maturidade e dignidade profissional. Não permita que os seus sentimentos negativos manchem a sua imagem e reputação por ocasião de sua saída da empresa. Saia de cabeça erguida e de olhos postos no próximo dia. Quando coisas ruins acontecem a você, a melhor a fazer é não permitir que a notícia do evento lhe abata. Há uma expressão de Michel de Montaigne, escritor francês(1533-1592), sobre a qual devemos refletir nesses momentos difíceis da vida. “Não podendo regularizar os acontecimentos, regularizo a mim mesmo.” (Os Ensaios, II, 17). Essa postura madura e responsável será vital na hora de negociar o seu pacote financeiro de saída. Reagir de forma agressiva ou indignada não produzirá nenhum impacto sobre o mensageiro de sua demissão ou de sua organização. Muito pelo contrário, eles servem apenas para lhe desgastar psicologicamente ainda mais. O psicoterapeuta Rollo May afirma: “Quando um indivíduo sofre de ansiedade durante um prolongado período de tempo fica com o corpo vulnerável a doenças psicossomáticas”.

Caro leitor, lembre-se que uma demissão é fruto de avaliações periódicas negativas, relacionamentos desgastados ao longo de vários meses ou anos de trabalho com subordinados, pares e superiores, estagnação profissional, inadequação para determinada função, fusões, aquisições, projetos de reengenharia e de downsizing etc. Em alguns casos, a pessoa também comete o erro de falar demais e sem tomar devidas precauções para não se expor, o que pode ser fatal.

Em situações como fusões, aquisições, reengenharia e downsizing, você comumente não tem nenhum controle sobre elas. O melhor mesmo é estar sempre preparado para encarar o mercado de trabalho com criatividade, determinação, energia, foco e muita disciplina.

Caro leitor, permita-me enfatizar, à luz de minha experiência, estudos diários e pesquisas permanentes, que nenhuma demissão ocorre sem a sua efetiva participação e consentimento. Em outras palavras: você é o agente responsável pela sua própria demissão na maioria das vezes. De nada adianta culpar a empresa, o chefe, o subordinado ou quem quer que seja. Assuma a sua parte da responsabilidade.

Esse reconhecimento é vital para sua correção, crescimento e futuro profissional. Reconheço que muitas vezes desistimos de assumir a responsabilidade sobre aquelas coisas que são importantes para nós porque temos esse hábito ou porque alguém nos oferece uma saída mais fácil. Gostamos de soluções rápidas. Preferimos a superficialidade à profundeza Queremos alguém que nos diga quais são as regras para que possamos segui-las.  Porém nunca olhamos para dentro de nós mesmos.

Sempre que estou diante de um profissional que vem passando por momentos de frustração e decepção devido à sua demissão costumo lhe dizer que não há maior despropósito do que levar tudo a sério. A demissão é uma benção divina. Aproprie-se dessa benção da natureza e mude o seu destino. Como dizia Madre Tereza de Calcutá, olhe para o sol e nunca verá a sombra.

2. Reúna os membros de sua família – esposa (o) e filhos (as) – e fale objetiva e claramente sobre a demissão. Não tenha medo de enfrentá-los por mais difícil e embaraçoso que seja esse momento. Ele é vital para a sua segurança e também para a obtenção de apoio psicológico e espiritual. Há uma expressão neo-testamentária que diz: “Todo reino dividido contra si mesmo é devastado, e toda cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá.” (Evangelho de São Mateus 12.25).

Essa expressão aplica-se de maneira irrefutável ao ambiente familiar por ocasião da demissão. Afinal, não são poucos os casamentos e lares desfeitos nos períodos de transição de carreira. Tenho observado que muitas vezes a comunicação feita pelos náufragos da demissão é precária, conturbada, confusa e coberta de incertezas e inseguranças.

Já presenciei em meu trabalho como consultor de carreira inúmeros profissionais que assumiram posições distintas tão logo tomaram conhecimento de sua demissão. Alguns deles, sem nenhuma reflexão mais aprofundada sobre o que deveria falar, comunicou imediatamente a família o fato e a colocou em situação de completo pavor, agitação e preocupação em relação ao futuro. Outros preferiram não falar absolutamente nada sobre o assunto à família. Todos os dias, eles saem de casa no mesmo horário e se comportam como se tudo estivesse na mais completa normalidade. No final do dia, eles repetem o mesmo ritual – voltam para casa no mesmo horário e pretendem que tudo esteja na mais perfeita tranquilidade. Esses são verdadeiros artistas na arte da dissimulação. Em geral, esses profissionais acreditam que se recolocarão rapidamente. Entretanto, a medida que as semanas vão passando e eles não encontram trabalho, a estratégia acaba por se tornar falaciosa e prejudicial para eles e as suas famílias. Não há como esconder a demissão por muito tempo. Nesse momento, tudo pode desabar no ambiente familiar, uma vez que a esposa e os filhos descobriram os artifícios engendrados pelo cônjuge na falsa suposição de que queria protegê-los.  Eles sentir-se-ão traídos e enganados. Essa é uma oportunidade distinta para educá-los e prepará-los para a vida. Afinal, a vida está cheia de contratempos e surpresas. Nada poderá ensiná-los mais e melhor. Se você estiver em sincronia com a sua família, a sua transição se dará de maneira rápida. Você e a sua família trabalharão juntos durante o período de “luto” e também de “cura” provocado pela demissão.

Lembre-se que apenas em torno de uma família unida e que se ama é possível construir um futuro grandioso, feliz e próspero.  Há um pensamento extraído do Livro dos Pensamentos Divinos que diz: “Todo mundo tem sua carga. Ninguém pode viver sem o apoio dos outros; portanto, temos de apoiar uns aos outros com consolo, conselhos e advertências mútuas”.

Como seria bom que atrás da porta da casa ou apartamento de todo profissional feliz existisse alguém com um pequeno martelo nas mãos que, batendo-o constantemente, lembrasse que as vicissitudes, as decepções, as tristezas e as dores existem e elas podem sobrevir sobre ele ou ela a qualquer momento, como escreveu A. P. Tchekhov, escritor russo (1860-1904). Infelizmente, isso é quase impossível. Portanto, o melhor mesmo é preparar o seu espírito para esses eventos inesperados da vida.

Durante o período de transição de carreira, evite jamais fale mal de sua empresa, de seu chefe, de seus pares e subordinados em seu ambiente familiar. Essa não é a melhor hora. Portanto, seja grandioso no seu proceder. Afinal, se a sua empresa era um lugar tão inóspito, por que você permaneceu tanto tempo nela? Quem se modera, raramente se perde, disse o filósofo chinês Confúcio em Os Colóquios, IV, 23

Gosto muito de uma expressão coletada da sabedoria de Blaise Pascal (1623-1662) matemático, físico, filósofo e teólogo francês, que diz: “Toda verdade tem sua origem em Deus. Quando esta se manifesta em um homem, não é porque venha dele, mas porque ele tem quantidade suficiente de transparência para revelar”.

ONE THOUGHT ON “ACEITE A REALIDADE – VOCÊ ESTÁ EM TRANSIÇÃO DE CARREIRA”

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