“Todos nós podemos adquirir conhecimento por meio de outras pessoas, mas jamais poderemos nos tornar sábios por intermédio da sabedoria de outros homens”.

Michel de Montaigne (1533-1592)

Político, filósofo, escritor e cético francês

A vida humana é uma longa e extenuante peregrinação. A carreira profissional é um campo de batalha permanente, onde somente os mais flexíveis, os mais adaptáveis, habilidosos politicamente, preparados, atualizados, visíveis e arrojados sobrevivem. Na nova sociedade da informação, onde a mudança é a única certeza, não podemos esperar que as coisas permaneçam como antes. Afinal, quando pensamentos que temos as respostas para todas as nossas indagações, somos expostos a novas e inquietantes perguntas. Daí a sábia observação de Confúcio, político e filósofo chinês, “Tudo flui como um rio, sem pausa, dia e noite.” Ou, ainda, nas palavras do cantor e compositor brasileiro, Lulu Santos:

“Nada do que foi será

De novo do jeito que já foi um dia

Tudo passa

Tudo sempre passará.

A vida vem em ondas

Como um mar

Num indo e vindo infinito

Tudo o que se vê não é

Igual ao que a gente

Viu há um segundo

Tudo muda o tempo todo

No mundo”.

Caro leitor, essa é uma verdade secular. Se você teve a oportunidade e o privilégio de visitar a Igreja de São Francisco de Assis, projetada por Aleijadinho (nascido Antonio Francisco Lisboa, 1738-1814), escultor e arquiteto colonial em Ouro Preto, Minas Gerais, logo será atraído por essa verdade no topo de seu altar. No alto, à sua esquerda, um anjo segura em suas mãos uma ampulheta (artefato para medição do tempo), a fim de mostrar aos homens e mulheres, crianças e velhos, ricos e pobres, intelectuais e ignorantes, senhores e servos, brancos e negros que o tempo passa rapidamente para todos.

Essa verdade também pode ser observada e confirmada por ocasião de uma entrevista de emprego. Não há uma entrevista igual à outra. As circunstâncias, os locais onde se realizam, os entrevistadores que as conduzem, as perguntas formuladas, entre outras questões, diferem em sua natureza, conteúdo, profundidade e complexidade. Portanto, por mais que você se prepare, não há como prever de maneira sistêmica e racional todas as perguntas que poderão lhe ser feitas durante uma entrevista. As possibilidades são infinitas.

Eu, particularmente, tenho mais de 150 livros em minha biblioteca sobre esse assunto. Entretanto, todos os dias sou surpreendido com novas perguntas, abordagens e estratégias. É difícil se manter atualizado e ter respostas prontas para todas elas. Mas de uma coisa você pode ter certeza. Todas as perguntas formuladas podem ser resumidas essencialmente em apenas dez:

• O que o qualifica para essa posição?
• Você é capaz de se adaptar aos valores e políticas de nossa organização?
• Você é capaz de produzir os resultados que a empresa espera do você, se contratado?
• O que você pode agregar à nossa organização – a curto, médio e longo prazos – que nenhum outro candidato poderá fazer?
• Por que devemos contratá-lo para essa posição?
• Você procura um emprego ou um trabalho para empreender?
• Você é capaz de caminhar uma milha a mais independentemente da situação?
• Você age com profissionalismo em todos os ambientes e circunstâncias?
• Você é capaz de solucionar os problemas sempre que eles surgem?
• Você é como um de nós?

Caro leitor, é provável que você ao caminhar para uma entrevista, não importa a sua natureza, tenha inúmeras dúvidas que o tornam inseguro sobre o resultado final. Você não está sozinho. Todo candidato à uma nova posição tem medo, sente-se inseguro e nervoso. Vejo esses sentimentos aflorarem todos os dias nos meus escritórios. Daí porque, muitas vezes, conduzimos inúmeras entrevistas (com o auxílio de uma filmadora) com o mesmo candidato, a fim registrar seu desempenho e torná-lo mais seguro e confiante em seu empreendimento.

Para receber a benção de um novo emprego, você necessita se preparar bem e transmitir aos seus entrevistadores a seguinte mensagem: “Eu sou o melhor candidato para a sua empresa”.

Caro leitor, aqui estão alguns princípios que poderão norteá-lo durante a sua entrevista:

• Seja você mesmo ao longo da entrevista. Quanto mais transparente, humilde, sincero e verdadeiro você for, mais as pessoas o apreciarão. Ninguém tolera o indivíduo falso e que age com disfarces;
• Nunca subestime o entrevistador por mais despreparado que ele seja. Trate-o com cordialidade, respeito e educação. De nada valerá sua arrogância e espírito de superioridade se você não consegue ser convocado para uma segunda entrevista;
• Coloque-se sempre no lugar de seus interlocutores. Vá para todas as entrevistas preparado para identificar as principais necessidades e problemas da organização contratante. Aja como se você fosse um consultor experiente. Lembro-me que quando fui contratado para a posição de gerente da Booz, Allen & Hamilton International, seis meses depois fui enviado para Chicago, Illinois, Estados Unidos, a fim de participar de extensivo treinamento. Naquela ocasião, uma das mensagens mais importantes que aprendi foi: aprenda a fazer perguntas a fim de identificar os principais problemas dos clientes, a analisar e interpretar as respostas etc;
• Faça de sua entrevista um diálogo e não um monólogo ou interrogatório. Não caia na armadilha de responder o que lhe é interrogado apenas. Abra a discussão, comente, questione, ilustre e adicione informações relevantes. Ao se conduzir dessa maneira, você demonstrará ser um profissional com iniciativa e curioso. Cuidado para não se transformar durante a entrevista em um profissional de um único livro – o livro da própria ignorância;
• Escute atentamente o que os seus interlocutores estão perguntando. É bem provável que se você estiver se sentindo ansioso, nervoso e preocupado não compreenda a pergunta ou perguntas formuladas. Lembre-se que no momento em que estiver na sala de entrevista você deve ficar totalmente concentrado. Cuidado com as distrações;
• Comporte-se como um diplomata em terra estranha à sua. As principais qualidades de um diplomata, segundo François de Callières, são: “Mente aberta e observadora, espírito aplicado, julgamento sólido, que saiba avaliar a medida das coisas tais como o são. Ele deve, ainda, possuir aquela penetração que o habilita a desvelar os pensamentos dos homens e a saber, pelos menores movimentos de seus semblantes, que paixões agitam-se em seu interior, pois tais movimentos não raro traem mesmo o mais experientes negociador.

Deve também possuir uma mente fértil em expedientes, de modo a afastar suavemente as dificuldades por ele encontradas no cumprimento de seus deveres; deve ter presença de espírito, a fim de encontrar uma resposta rápida e significativa mesmo para surpresas imprevistas. (On the Manner of Negotiating With Princes, 2000, pág. 26).

Eis algumas perguntas que podem ser feitas durante uma entrevista de emprego para você refletir e elaborar possíveis respostas:

• Que tipo de experiência você tem em nossa indústria?
• Quais foram os problemas mais críticos que você enfrentou no seu último emprego e como os solucionou?
• Você aceita trabalhar no Congo, África?
• Como você avalia o progresso de sua carreira até o presente?
• Por quanto tempo você deseja permanecer em nossa organização?
• Quanto tempo você necessita para dar uma contribuição efetiva à nossa empresa?
• Você sabe trabalhar sob pressão? Dê três exemplos.
• Quais foram os seis livros mais importantes que leu nos últimos seis meses e que lições mais valiosas aprendeu? Você pode me citar os seus autores?
• Nenhuma empresa demite os seus melhores talentos, exceto em situações gravíssimas. Por que você foi demitido de sua empresa, se diz ser um excelente candidato?
• Você está no mercado há mais de dez meses. Por quais motivos você não encontrou um novo trabalho até o presente?
• O tempo passa muito rápido, ensina a sabedoria milenar. De que maneira, você está se preparando para o futuro?
• Quem foram essas figuras históricas, em que período da humanidade elas viveram e que legado deixaram?

–      Fídias

–      Sêneca

–      Cícero

–      Adam Smith

–      Karl Marx

–      Leão XIII

–      Alfred Nobel

–      Alfred P. Sloan

–      Robert Wood Johnson

–      Peter Drucker

–      Antônio Pereira Ignácio

• Que tipo de liderança você exerceu ao longo de sua vida estudantil?
• Que tipo de opinião você tem sobre o seu último chefe e empresa? Espero que fale a verdade.
• Quando você apresentou uma ideia ou projeto e ela foi brutalmente criticada? Como você reagiu?
• O que mais lhe deixa contrariado em seu ambiente de trabalho e como você reage nessas situações?
• Você está na mesma posição há mais de dez anos. Você se sente estagnado em sua carreira?
• Por que você escolheu essa área de trabalho?
• Quais são as suas principais competências? Dê exemplos de onde as demonstrou.
• Qual foi o maior risco que assumiu no último semestre?
• Como você se mantém atualizado em seu campo de trabalho?
• Quais foram os tipos de pessoas mais difíceis de convivência que você se defrontou em sua última empresa?
• Como você administra sua agenda diária?
• Quais são as características predominantes de sua personalidade? Cite as mais importantes. 

Caro leitor, como você respondeu às perguntas que lhe foram formuladas? Dê uma nota de 1 a 10. Se você acha que não foi bem nas respostas, prepare-se melhor, releia cada uma delas e pense como poderia responde-las melhor. Faça isso até sentir que sua nota subiu para 10.

Não tenho nenhuma dúvida a respeito da importância do preparo e do controle emocional para o sucesso do candidato em entrevista.  São fatores de extremo valor. Portanto, prepare-se, prepare-se e prepare-se. Caso contrário morrerá em plena jornada no deserto.