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Faça follow-up da entrevista

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Gutemberg B. de Macedo

Uma história de 40 anos de atuação no mercado, que se solidificou em uma empresa nacional, com filosofia e estratégias globalizadas.

“Obscuridade e indistinção na expressão é, em toda parte e sempre, um sinal muito grave. Pois, de cem casos, em noventa e nove elas derivam da falta de clareza do pensamento, que por sua vez procede quase sempre de sua desproporção original, da sua inconsistência e, portanto, de sua inexatidão. Quando um pensamento correto eleva-se à mente, sua meta é alcançar a clareza, o que logo consegue: aquilo que se pensa com clareza encontra facilmente sua expressão adequada. O que um homem é capaz de pensar também pode ser expresso sempre em palavras claras, compreensíveis e inequívocas”.

Arthur Schopenhauer (1788-1860)

Filósofo alemão

“Sobre o ofício do escritor” 2003

Diariamente sou abordado por profissionais em transição de carreira que desejam saber qual é a melhor e a mais eficaz estratégia de follow-up após uma entrevista. Observo que na maioria das vezes, eles não têm uma noção precisa e bem articulada sobre qual estratégia usar – uma carta formal, um e-mail, um telefonema? Particularmente, acredito que essa é uma dificuldade encontrada pela maioria dos profissionais em transição de carreira. Daí porque muitos se tornam verdadeiramente inconvenientes na hora de fazer um follow-up.

Indiscrições podem ser onerosas para a carreira de qualquer profissional. Por isso, é importante saber qual é a melhor forma de abordar um entrevistador após uma entrevista. Vejamos alguns exemplos de estratégias inconvenientes e inapropriadas:

  • O profissional insiste em falar com o entrevistador sobre o status do processo semanalmente. Não tem paciência para aguardar um posicionamento sobre o assunto. E quando a resposta não vem no tempo esperado ou desejado, ele se estressa e se angustia sem necessidade.
  • O candidato cria situações imaginárias a fim de tentar conversar com os entrevistadores. Um dos artifícios mais desgastados comumente usados por candidatos ainda hoje é procurar contatar o entrevistador e perguntar se ele o procurou nos últimos dias ou semanas alegando que esteve fora da cidade ou que teve problemas com o seu celular.
  • O profissional envia e-mails e mais e-mails ao entrevistador numa demonstração de total desespero. Uma cobrança infundada e inapropriada.

Esse tipo de comportamento revela que o candidato em transição de carreira não tem a menor noção sobre como opera o mercado de trabalho e o processo seletivo. Infelizmente há também muitos outros profissionais que se comportam de maneira oposta, mas não menos errada. Eles não fazem nenhum follow-up após a entrevista e ficam esperando que o telefone toque novamente. Em outras palavras, eles delegam a gestão de sua prospecção por um novo trabalho a um estranho qualquer. Esse é um erro gravíssimo.

O processo estratégico de uma entrevista não termina com o aperto de mão na sala de recepção de uma empresa qualquer. Os esforços que o candidato empreende após a entrevista é tão crítico quanto o empreendido antes e durante a entrevista. Portanto, nunca se esqueça dessa observação.

O follow-up, quando estrategicamente bem conduzido, pode fazer um profissional conquistar uma nova colocação mesmo quando as chances são limitadas e remotas. Eu, particularmente, tenho visto isso acontecer inúmeras vezes. Todo o profissional tem a oportunidade de se prevenir contra os cenários acima descritos. O primeiro é obter informações adequadas acerca do “frametime” da decisão a ser tomada pela empresa contratante. A segunda, causar uma impressão excepcional no entrevistador de tal maneira que ele diga: “esse é o candidato que nossa empresa deseja contratar.” Independentemente das circunstâncias, aqui estão algumas perguntas para serem feitas ao entrevistador e que podem servir como fundamentos para um follow-up estratégico inteligente e vencedor:

  • “Quando a sua empresa pretende concluir esse processo seletivo?” Muitas vezes, os processos seletivos se arrastam por meses. É sempre bom ter isso em mente.
  • “Quantos candidatos a sua empresa pretende entrevistar ainda?” Os headhunters costumam entrevistar pelo menos 30 candidatos antes de apresentar três a cinco candidatos para seu cliente. Esse é um trabalho e tanto. São horas e mais horas de entrevistas, checagem de referências e preparação de relatórios sobre os candidatos finalistas.
  • “Qual é a data limite para que o candidato escolhido assuma a posição?” Há situações em que essa data precisa ser religiosamente cumprida e há outras ainda que não são tão urgentes. Portanto, é necessário obter uma dimensão do tempo.
  • “Você necessita obter outras informações a meu respeito e de minhas qualificações”? A empresa poderá desejar receber novas informações a respeito do candidato pelos mais variados motivos.
  • “Quando vocês devem me contatar a fim de me informar sobre o status desse processo seletivo? Ou você me contatará independentemente de seu “outcome”?

Tenho como hábito recomendar aos profissionais em transição de carreira três alternativas após duas semanas após a entrevista:

  1. Redação e envio de uma carta formal de follow-up para o entrevistador ou entrevistadores. Ela deve ser escrita de maneira clara, objetiva, diplomática e sem erros de português. Sua redação deve obedecer às mesmas exigências definidas para elaboração da “Broadcast Letter” e a “The Thank you Letter,” ambos discutidas em artigos anteriores.
  2. Elaboração de um e-mail formal. Cada palavra do e-mail deve ser bem pensada e articulada. Afinal, esse não é um e-mail comum. Ele poderá definir a sua contratação ou rejeição. Portanto, lembre-se que todo profissional inteligente e sábio deve cultivar e manter uma imagem excelente perante os olhos dos entrevistadores. O e-mail deverá assegurar a boa vontade de todos aqueles que o entrevistaram.
  3. Telefonar para o entrevistador. O uso do telefone nesse momento é muito frequente e o mais usado por muitos profissionais em transição de carreira. Entretanto, é o mais perigoso, caso o profissional não pense sobre cada palavra que vai pronunciar. Minha sugestão é que o profissional em transição de carreira tome as seguintes providências se for o telefone. Escreva numa folha de papel ou em seu laptop cada palavra que deseja falar. Revise e revise o peso de cada palavra escrita. Nunca escreva um texto para logo a seguir pronunciá-lo para seu interlocutor. Há uma expressão proferida pelo escritor italiano, L. Pirandello, 1867-1936, que diz o seguinte: “Tem ideia de quanto mal nos fazemos por essa maldita necessidade de falar?” (Ciascuno a suo modo, I). Reflita, caro leitor, no momento de seu telefonema sobre essa indagação. Ela pode livrá-lo de muitos deslizes e situações embaraçosas. Ao telefonar para o entrevistador, nunca faça-o sentado. Sempre que o fizer, levante-se de sua poltrona ou cadeira de trabalho e fale com firmeza e convicção cada palavra que pronuncia. Esse comportamento fará uma tremenda diferença na sua comunicação.

Caro leitor, veja um modelo adequado de carta de follow-up. Esse modelo não é para você copiá-lo e enviá-lo sem nenhuma reflexão aos seus interlocutores. Por favor, não caia no erro praticado por muitos profissionais – plagiar textos que não representam as suas ideias, palavras, intenções e convicções.

Data:

Ilmo. Sr.

Pedro Alcântara Damasceno de Albuquerque Filho (nome fictício)

Consultor Sênior

Global Hunting International

Alameda das Acácias, 390 – 41 andar

20.300-021 São Paulo, SP.

Prezado Sr. Pedro Alcântara,

Há aproximadamente quinze dias tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente e apresentar minhas qualificações acadêmicas e profissionais em entrevista pessoal.

Confesso que fiquei impressionado com o rigor e a profundidade de suas indagações naquela oportunidade sobre minha carreira, bem como com os desafios da posição sobre a qual tratamos.

Desejo enfatizar ainda que fiquei extremamente motivado com a nossa longa e profícua conversa. Como lhe falei, sou um profissional movido por novos desafios e a busca incessante de resultados para a organização. O meu histórico profissional confirma tais assertivas.

À luz dessas rápidas considerações, gostaria de receber um feedback sobre o andamento do processo seletivo do qual participei.

Reconheço que a sua agenda diária é extremamente ocupada e repleta de múltiplas atividades consultivas. Entretanto, se possível, peço que me atualize sobre os próximos passos de nossa discussão.

Agradeço sua gentil deferência e aguardo seu pronunciamento a respeito desse assunto.

Atenciosamente,

Mauro Pestana de Azevedo

Caro leitor, desejo lembrá-lo que quando o candidato é um profissional verdadeiramente especial e diferenciado, o entrevistador procura manter contato com ele permanentemente durante o processo seletivo. Recentemente assessorei o diretor de grande empresa multinacional do setor químico em seu processo de transição de carreira. Em pouco menos de 20 dias, ele recebeu oferta de trabalho de duas grandes multinacionais. O mais interessante em sua jornada: os headhunters responsáveis pela identificação de candidatos no mercado de trabalho ligavam para ele quase que diariamente a fim de saber sobre o status de sua situação.

Sim, candidatos especiais são verdadeiros diamantes lapidados. As empresas que recrutam não querem perdê-los em momento nenhum. Se você está passando por um momento de transição de carreira e necessita fazer um follow-up proativo de suas entrevistas sem se tornar inconveniente, recomendo que observe as seguintes regras sugeridas pela renomada consultora norte-americana, L. Michelle Tullier, Ph.D.:

  • Deixe o seus esforços de follow-up serem guiados pelo que você descobriu durante a entrevista. Se você sabe de antemão que a posição não será preenchida durante os próximos dois meses, então não há necessidade de cobrar o entrevistador semanalmente. 
  • Considere a natureza da posição, a organização, o setor mercadológico e o estilo da alta gerência. Este é um ambiente onde a assertividade é não só valorizada, mas esperada, ou você está lidando com pessoas mais discretas?
  • Não fique focado em descobrir a frequência exata na qual você deve estar tentando contatar alguém que não está retornando suas ligações ou e-mails. Não há uma fórmula mágica. Use o bom-senso e imagine ser a pessoa que recebe a sua mensagem telefônica ou seu e-mail. Você provavelmente não gostaria de ser chamado cinco vezes em um dia, mas não se importaria com uma ligação ou duas por semana, dependendo da etapa na qual o processo esteja.
  • Quando você falar com alguém ao telefone, não soe como se estivesse apenas cumprindo uma obrigação de fazer o follow-up obrigatório. Não faz nenhum sentido telefonar ao headhunter ou ao selecionador de uma empresa se o profissional vai dizer simplesmente: “Eu desejo saber se você ou a sua empresa já tomou uma decisão a respeito da escolha de um candidato.”
  • Lembre-se de como as decisões de contratação são feitas. Você pode estar lidando com um processo que é desorganizado ou com diversos tomadores de decisão que têm que chegar a um consenso, ou ainda um que envolva variáveis externas que estão fora de seu controle.
  • Certifique-se de que está fazendo o follow-up com o profissional certo. Não perca seu tempo buscando alguém que tenha pouca autoridade sobre o processo de contratação.
  • Saiba o momento certo de desistir. Se o processo chegar ao ponto do absurdo de se arrastar por meses ou ultrapassar o limite da cortesia comum com o número de vezes que telefonou ou escreveu, talvez seja a hora de minimizar o prejuízo e seguir em frente.
  • Se você chegou ao fim de sua paciência e precisa de uma resposta, considere o envio de um acarta ao invés de deixar mais uma mensagem no telefone ou enviar um outro e-mail. Educadamente, mas com firmeza, diga que você precisa de uma resposta para que possa buscar outras oportunidades e que apreciaria uma ligação ou um e-mail para saber como está o processo – mesmo que a resposta seja um não. Haja dessa forma apenas se você já fez mais de uma entrevista e sabe que a empresa demonstrou real interesse em você, talvez a ponto de insinuar que fariam uma proposta.
  • Se você perceber que está sendo rejeitado para uma posição, veja se consegue algum retorno sobre o porquê de não ter conseguido o trabalho. Esteja consciente que muitos serão relutantes em oferecer uma explicação. Esta questão de dar um retorno é extremamente controversa entre os profissionais de recursos humanos e gerentes de contratação. Alguns acham que não é responsabilidade deles serem seu coach de carreira, mas outros acreditam que você mereça uma crítica honesta.

Todo processo seletivo exige do candidato inteligência, paciência, maturidade, flexibilidade, conhecimento, diplomacia, resiliência e principalmente profunda capacidade de observação do ambiente. Nas palavras de François de Callières (1645-1717), diplomata e secretário de gabinete de Luís XIV, “O negociador não somente deve ser livre de humores e fantasias caprichosas como tem de saber como ser tolerante, como adequar-se aos volúveis humores alheios”. (On The Manner of Negotiating With Princes, 1716).

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