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O poder destrutivo da inveja: o veneno silencioso nas relações corporativas

Gutemberg B. de Macedo

Gutemberg B. de Macedo

Uma história de 40 anos de atuação no mercado, que se solidificou em uma empresa nacional, com filosofia e estratégias globalizadas.

A inveja é um sentimento tão antigo quanto a própria existência humana. Miguel de Cervantes, ao escrever sobre a inveja, disse: “A inveja vê sempre tudo com lentes de aumento, que transformam pequenas coisas em grandiosas, anões em gigantes, indícios em certezas.” Muitos séculos antes dele, Salomão, estadista judeu, escreveu: “A inveja é a podridão dos ossos.” Textos islâmicos recomendam: “Mantenha-se distante da inveja, pois, assim como o fogo queima a lenha, a inveja consome as boas ações.”

No ambiente executivo, ela se manifesta de forma sutil, mas com um impacto devastador, influenciando decisões estratégicas, moldando comportamentos e, muitas vezes, comprometendo o desempenho de equipes, a reputação de líderes e o futuro das organizações. O poder destrutivo da inveja não reside apenas em seus efeitos externos, mas principalmente no impacto interno que causa naqueles que a alimentam.

Ramon Cajal observou: “A inveja é tão vil e vergonhosa que ninguém se atreve a confessá-la.”

A inveja nasce da comparação constante e da insatisfação pessoal. Ela se instala quando o profissional observa o sucesso, a ascensão ou as conquistas de colegas e sente um desconforto profundo, um vazio que o leva a desejar o que não possui. Esse sentimento, se não for reconhecido e gerenciado, transforma-se em um veneno silencioso que corrói a autoconfiança, gera frustração e, em casos extremos, desencadeia comportamentos antiéticos que podem colocar em risco não apenas carreiras individuais, mas também a integridade de toda uma organização.

Sebastian Brandt (1457–1521), em sua obra singular “A Nau dos Náufragos”, escreveu: “A inveja surge apenas porque ambicionas o que é meu e o que cabe a mim possuir; e, como gostarias de insuflá-los, não pode ter bons sentimentos para comigo. A inveja é uma ferida moral que nunca consegue sarar por completo. O invejoso foi atingido por ela quando lhe surgiu esse propósito; dia e noite não tem descanso enquanto não realizar seu intento. O invejoso tem lábios lívidos, é esquálido e descarnado como um cão; seus olhos são vermelhos e não consegue encarar ninguém de frente.”

No ambiente corporativo, a inveja pode ser ainda mais perigosa. Executivos que se deixam consumir por esse sentimento podem adotar atitudes prejudiciais, como sabotagem de projetos, difamação de colegas ou boicote a iniciativas inovadoras. Esse clima tóxico prejudica não apenas o ambiente de trabalho, mas também o crescimento sustentável da organização. A energia que poderia ser canalizada para o desenvolvimento pessoal e coletivo é desperdiçada em conflitos desnecessários e jogos de poder improdutivos.

Historicamente, a inveja foi retratada em diversas culturas e tradições como um dos sentimentos mais perigosos. No contexto corporativo, sua manifestação pode ser ainda mais sutil, mascarada por uma fachada de profissionalismo e competência. Casos emblemáticos de executivos de grandes corporações que sabotaram colegas ou tomaram decisões motivadas pela inveja mostram como esse sentimento pode corroer estruturas organizacionais de dentro para fora.

Do ponto de vista da liderança, identificar e lidar com a inveja dentro das equipes é um desafio crucial. Líderes eficazes não apenas reconhecem sinais desse sentimento, mas também criam uma cultura organizacional baseada em transparência, meritocracia e colaboração. Estabelecer processos claros de feedback, metas individuais alinhadas aos objetivos coletivos e um ambiente que valorize o crescimento mútuo são estratégias fundamentais para neutralizar o impacto da inveja.

Superar a inveja exige um processo de reflexão e amadurecimento emocional. O primeiro passo é reconhecer o sentimento sem culpa ou vergonha, entendendo suas origens. Executivos de alto desempenho praticam o autoconhecimento e a inteligência emocional, transformando a inveja em uma força motivadora para o aprimoramento contínuo. Em vez de focar no sucesso alheio, o foco deve estar em desenvolver o próprio potencial, estabelecer metas desafiadoras e buscar realizações significativas.

Em um mundo corporativo cada vez mais competitivo e exposto, onde resultados e conquistas são amplamente divulgados, o desafio de lidar com a inveja torna-se ainda maior. Contudo, cultivar a empatia, o respeito mútuo e a autoconfiança é o caminho para construir relações profissionais saudáveis, ambientes de trabalho produtivos e, acima de tudo, uma liderança inspiradora e autêntica.

O poder destrutivo da inveja é real, mas o poder da consciência, da inteligência emocional e do compromisso com a ética e a excelência profissional é infinitamente maior.

Aqui vale repetir a sabedoria judaica: “Todos os tipos de aversão podem ser curados, menos aqueles que florescem da inveja.” Sêneca, poeta romano, advertiu: “Evitamos a inveja se guardamos as alegrias para nós próprios.”

Preserve-se e afaste-se dos invejosos, secadores das pimenteiras.

Redigido e Postado por Gutemberg B de Macedo, Presidente da Gutemberg Consultores.

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