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Organize-se e mantenha o foco

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Gutemberg B. de Macedo

Uma história de 40 anos de atuação no mercado, que se solidificou em uma empresa nacional, com filosofia e estratégias globalizadas.

“Nosso eterno estado de incerteza instila um anseio profundo e generalizado por uma força, qualquer tipo de força em que possamos confiar e que seja capaz de nos tranquilizar sobre as causas dessa profunda, vaga e difusa consciência ou suspeita de insegurança que atormenta as pessoas comuns, dia e noite, neste mundo líquido moderno. O desejo é que, conhecendo essas causas, a força possa nos ensinar a combatê-las, reduzir-lhes o poder e neutralizá-las de maneira eficaz…”

Zygmunt Bauman,

Professor emérito da Universidade de Leeds e renomado sociólogo europeu

44 Letters from the Liquid Modern World, 2010

O emprego da forma como nossos avós concebiam, é coisa do passado. Portanto, aqueles que esperam empreender uma carreira com a ideia de estabilidade empregatícia, a exceção de empregos públicos, estão apenas preparados para viver em mundo corporativo que não existe mais. A essa afirmativa poderemos adicionar as palavras do sociólogo Zygmunt Bauman: “Em nosso mundo volátil, de mudanças instantâneas e erráticas – lealdade, compromisso de longo prazo e vínculos indestrutíveis são anátema, obstáculos a tirar do caminho. Saímos do labirinto imutável e congelado dos behavioristas, das rotinas uniformes e monótonas elaboradas por Pavlov, para o mercado livre e aberto, onde tudo pode acontecer a qualquer hora e nada pode ser feito em definitivo; onde dar passos bem-sucedidos é uma questão de sorte, e nada garante que o sucesso se repetirá”. (Obra citada, “O Mundo é Inóspito à Educação”, Carta 24). Nos dias atuais a demissão é uma espécie de “Espada de Dámocles” que paira sobre a cabeça de todo profissional, não importa a posição conquistada na hierarquia corporativa, os anos de trabalho dedicados à empresa, o grau de preparo e de exposição externa no mercado, os resultados conquistados ao longo da carreira e o nível de competência.  A grande maioria dos profissionais está sujeita a ouvir a expressão que virou bordão na hora de demitir: “Você não tem o perfil do profissional que a nossa empresa necessita atualmente. Precisamos de um indivíduo com visão mais estratégica e você carece dessa competência. Portanto, você está demitido”.

É uma verdade irrefutável: o frágil e tênue fio preso no teto que sustenta a espada pode se romper e lhe cortar o pescoço a qualquer momento. Há inúmeros exemplos no Brasil e no exterior que comprovam essa dura realidade:

  • Francisco Valim, executivo com um passado irretocável e uma carreira brilhante, foi demitido da presidência da empresa de telefonia Oi por telefone, após um ano e meio de trabalho. Segundo noticiou a imprensa, “Valim acabava de desembarcar no Brasil, após passar férias no exterior com a família”. (Jornal Valor Econômico, Caderno Empresas – Tecnologia e Comunicações, 23 de janeiro de 2013, pág. B2).
  • A Rio Tinto demitiu seu presidente executivo Tom Albanese, peso-pesado da mineração que estava empresa havia duas décadas. Ao mesmo tempo, a companhia também demitiu o executivo Doug Ritchie, que comandou a aquisição e a integração dos ativos de carvão de Moçambique. (Jornal O Estado de S. Paulo, Caderno de Negócios, 18 de janeiro de 2013, pág. B.11).
  • A Walmart’s Índia Joint Venture demitiu vários executivos de alto escalão e adiou a abertura de algumas lojas do país por causa de uma investigação interna para apurar um possível caso de suborno. (Jornal O Estado de S. Paulo, Caderno de Negócios, 24 de novembro de 2012, pág. B.30).
  • Europa cortou 6 mil empregos por dia em 2012. Estudo da Eurostat mostra que 2,1 milhões de europeus perderam o emprego em um ano. (Jornal O Estado de S. Paulo, Caderno de Economia, 1 de dezembro de 2012, pág. B.18).
  • No começo de 2013, o jornal O Estado de S. Paulo anunciou que o desemprego iria voltar a crescer no Brasil, segundo análise da Organização Internacional do Trabalho. Nos próximos cinco anos será a vez de os emergentes serem contaminados pela crise. Entre 2011 e 2014, o número de desempregados no País terá aumentado em um milhão. (Jornal O Estado de S. Paulo, Caderno de Economia, 22 de janeiro de 2013, pág. B6).

Caro leitor, não ambiciono em hipótese alguma ser uma espécie de profeta do caos, do medo ou da desgraça alheia. Quero apenas, à luz de minha experiência, pesquisas e estudos diários, alertá-lo sobre os perigos e a probabilidade de uma demissão inesperada. Não se deixe ser surpreendido por uma demissão. Tenha-a sempre como algo real e que pode ocorrer a qualquer momento de sua carreira. Esse é um evento que não acontece apenas com o seu vizinho. Portanto, prepare-se, inclusive financeiramente, formando uma boa reserva que lhe garanta tranquilidade num momento tão difícil.

Quero lembrá-lo das palavras, em forma de advertência, do intelectual e político judeu, Salomão: “Não dês sono aos teus olhos, nem repouso às tuas pálpebras. Livra-te como a gazela da mão do caçador, e como a ave da mão do passarinheiro”. (Provérbios 6.5).  

Recentemente coordenei um projeto de transição de carreira visando a recolocação no mercado de trabalho de um executivo da área financeira vindo de uma grande empresa multinacional europeia. Durante uma de nossas longas sessões de aconselhamento, ele me disse o seguinte comentário: “Sempre me senti muito seguro em minha ex-empresa. Algumas vezes, até fui arrogante. Afinal, jamais pensei que algum dia eu fosse ser demitido, até porque sempre produzi grandes resultados e tive grandes padrinhos” E ele adicionou: “Há três meses aproximadamente fui abordado por um headhunter que desejava conversar comigo sobre uma oportunidade de trabalho numa nova empresa. Seguro de que jamais perderia meu emprego, fui de certa forma grosseiro com o consultor, pois em determinado momento de nosso diálogo, eu lhe disse: ‘o seu cliente não tem condições de cobrir a minha remuneração anual’. O consultor me agradeceu e desligou o telefone imediatamente. Veja como é a vida. Três semanas depois dessa conversa, fui demitido. Não percebi que tinha perdido todos os meus padrinhos na organização por força da aposentadoria de alguns de meus superiores e da chegada de novos chefes que não me conheciam bem. Eu não estava mais montado no cavalo certo”.

Diante dessa confissão, o melhor conselho que pude transmitir foi aquele formulado por Ann-Sophie, estudante de 20 anos da Copenhagen Business School que, interrogado por Flemming Wisler, respondeu: “Não quero que minha vida me controle demais… O mais importante é me sentir à vontade…. Ninguém quer ficar parado no mesmo emprego por muito tempo.” (“The thoughtful,” FO/futureorientation, Janeiro 2008, pág. 11) Em resumo: mantenha sua mente sempre aberta à novas opções. Não jure fidelidade do tipo “até que a morte nos separe” a qualquer pessoa ou organização. O mundo está cheio de oportunidades para profissionais abertos ao novo, que observam com rigorosa atenção as tendências do mundo moderno e que compreendem que a vida é como um rio caudaloso que nunca para de correr em direção ao mar.

Nesse sentido, vale lembrar a recomendação feita por Henry George: “Devemos estar sempre prontos a alterar nossas visões das coisas a qualquer momento, a descartar preconceitos, e a viver com a mente aberta e receptiva. O marinheiro que enfuna sempre as mesmas velas sem fazer mudanças quando o vento muda, jamais chegará ao seu porto de destino”.

Portanto, caro leitor, é pura loucura perder uma excelente oportunidade amarrando seus pés, mãos, mente e coração a compromissos irrevogáveis. Normalmente, esse tipo de comportamento apenas o conduzirá ao descarrilamento profissional como no exemplo anteriormente descrito.  Desafie-se todos os dias, quebre as algemas de ouro, fuja da gaiola de ouro e talvez fique surpreso com os seus pontos fortes e com o que pode realizar em pouco tempo. Não tenha medo de arriscar e se aventurar a fazer novos caminhos. Públio Siro, poeta latino, I século a.C., escreveu: “Ninguém conhece as próprias capacidades enquanto não as coloca à prova”. (Sentenças, 786).

Estar aberto a novas situações é algo vital para a sobrevivência após a demissão. Muitos profissionais, mesmo depois de demitidos, se recusam a rever o orçamento doméstico e a fazer cortes necessários para enfrentar o período de vacas magras que, aliás, pode ser longo. É por isso que acabam se endividando e perdendo tudo aquilo que conquistaram ao longo de anos de esforço e trabalho duro.

Portanto, o casal devem se sentar, colocar todas as despesas na ponta do lápis e fazer cortes que somem algo em torno de 30%. Não importa o valor da indenização trabalhista por ocasião de seu afastamento da organização ou da poupança bancária. É hora de austeridade.

Evite gastar os seus limitados ou “ilimitados” recursos financeiros desnecessariamente. Não é hora de aproveitar promoções, liquidações ou oportunidades nas lojas dos shoppings, mas sim de manter a carteira fechada. Cuide de seus centavos e os milhões cuidarão deles próprios. O dinheiro, como você sabe, não aceita desaforos. 

A fim de assegurar a harmonia no lar, a tranquilidade dos filhos e a certeza de que tudo logo se resolverá, sugiro que você tome as seguintes ações:

  • Faça do seu marido ou esposa seu assistente financeiro. Gerenciem juntos todas as despesas do lar com responsabilidade, parcimônia e realismo. Se você for o “gastão” da família, entregue os seus talões de cheque e cartões de crédito ao outro, e deixe que ele gerencie as finanças da casa. Se for o contrário, gerencie você mesmo.
  • Os cartões de crédito, uma das facilidades produzidas pelos tempos modernos, tornou-se uma praga para muitos indivíduos e famílias. São eles os principais fomentadores da compra por impulso, uma doença chamada gastar mais do que seus recursos financeiros permitem. Evite usá-los. Deixe-os guardados no fundo de uma gaveta. Assim você resistirá a possíveis tentações. Faça o mesmo com os talões de cheques.
  • Os varejistas negociam implacavelmente com esse tipo de compra impulsiva. Usam argumentos como “aceitamos os principais cartões de crédito,” ou “pague em cinco prestações sem juros e você nem vai sentir”. Eles nos encorajam a gastar sem parar até finalmente exaurirmos nossas frágeis reservas financeiras. Resista a esse tipo de abordagem.
  • Defina novas prioridades financeiras para o lar com a família. O ideal é que você discuta abertamente com todos os membros esses detalhes, caso contrário os familiares não compreenderão e desejarão viver como nos dias de total abundância. É preciso que eles tenham consciência de que necessitarão colaborar nesse momento delicado da família. Faça essa discussão com equilíbrio, sem tom alarmista, mas de forma firme. Há um provérbio do intelectual e político judeu, Salomão, que diz: “Com a sabedoria se edifica a casa, e com inteligência ela se firma. E pelo conhecimento se encherão as câmaras de todas as substâncias preciosas e deleitáveis. Um varão sábio é forte, e o varão de conhecimento consolida a força.” (Provérbios de Salomão 24.3-5).
  • Peça aos membros de sua família sugestões de como reduzir as despesas da casa. Você ficará surpreso com a atitude e o apoio que todos lhe darão nesse momento. Recentemente, assessorei um executivo em transição de carreira, cuja conta bancária estava comprometida, a despeito de sua verba rescisória. Ele reuniu a família ao redor da mesa de jantar e abriu sua planilha financeira – nela estavam registradas todas as despesas. Após analisá-las, ele descobriu que não tinha recursos para mais do que seis meses de sobrevivência. Portanto, era preciso reduzir os custos domésticos urgentemente. Sua filha de nove anos, ao ouvir e sentir a preocupação de seu pai, disse: “Pai, eu posso ajudá-lo. O senhor não precisa pagar o ônibus escolar, as aulas de balé ou o lanche da escola. Eu posso ir de bicicleta e levar o meu próprio lanche de casa, a partir de amanhã. Eu não tenho vergonha de fazer esse sacrifício pelo senhor.” Aqui se aplica um dos princípios mais valiosos da vida cristã: “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da família negou a fé, e é pior do que o infiel.” (Primeira Epístola de S. Paulo Apóstolo À Timóteo 5.8).
  • Dirija-se imediatamente à escola de seus filhos e negocie com a diretoria a redução das prestações mensais enquanto perdurar a sua transição. Não tenha vergonha de solicitar o desconto. Tenha vergonha, sim, de atrasar as mensalidades. Tenho um grande amigo que perdeu o seu emprego num importante veículo de comunicação do país. Passados vários meses sem que tivesse conseguido seu novo emprego, ele pensou em retirar suas duas filhas de uma das melhores escolas de São Paulo. Quando ele me comunicou essa ideia, reagi de maneira negativa por dois motivos: Primeiro, a educação de uma criança é algo de extrema importância. Portanto, retirá-las de uma escola de primeira classe para colocá-las em outra de segunda ou terceira classe seria algo que suas filhas jamais o perdoariam. Segundo, a mensagem que ele, pai, passaria para suas filhas com tal atitude seria devastadora – “a educação não é um valor inegociável.” Decidi, então, aconselhá-lo: “Vá à escola de suas filhas e negocie uma redução no valor das mensalidades.” Ele foi até a escola naquela manhã, conversou com o diretor da instituição e conseguiu uma redução de 50% nas mensalidades das duas filhas. Se você valoriza a educação de seus filhos, esse é o único item do orçamento doméstico que não deverá mexer, por mais delicada que seja a sua situação financeira. Lembre-se que os homens e as mulheres são moldados pela educação. Como frisou Rui Barbosa, o renomado jurista baiano “a suprema santificação da juventude, abaixo da prece, está na educação da mocidade”.
  • Contrate um plano de seguro saúde e de vida de boa qualidade para você e a sua família caso o seu ex-empregador não tenha estendido esse benefício por pelo menos mais seis meses após a data de sua demissão. Isso permitirá manter você e a sua família longe da previdência social do governo e de muitos hospitais públicos que oferecem tratamento de má qualidade aos seus pacientes.
  • Seja qual for a sua situação financeira por ocasião da demissão, lembre-se de manter sempre uma reserva financeira equivalente a dois anos de trabalho. Além disso, apague de seu pensamento o salário bruto e concentre-se apenas em seu salário líquido. Essa situação dará a você e a sua família uma tranquilidade enorme por ocasião da demissão.

Qual é o verdadeiro objetivo da prática da poupança mensal e disciplinada? Em primeiro lugar, você trabalhará e dormirá seguro e tranquilo todos os dias de sua vida. Baltasar Gracian, padre e filósofo jesuíta (1601-1658) escreveu: “Preparar-se na sorte para a hora do infortúnio. É de bom alvitre colher no verão provisões para o inverno, e é bem mais fácil. […] É bom poupar contra o mau tempo que é a adversidade cara e carente de tudo.” Em segundo lugar, você não necessitará se submeter a superiores despreparados, incompetentes e psicopatas por um longo período de tempo.  Você conquistou a sua independência econômico-financeira, a sua liberdade. Portanto, não terá necessidade de ouvir e aceitar desaforos e comentários infelizes tão comuns em muitas organizações nos dias atuais. 

Lembro-me de uma lição que me foi transmitida pelo meu querido e falecido pai: “Meu filho, é preferível você comer um bife por mês, a comer um bife todos os dias, sendo puxado por uma argola pendurada em seu nariz como se você fosse gado”. Jamais esqueci dessa preciosa lição de vida e sabedoria.

Caro leitor, esse assunto é de importância vital para o seu momento atual e futuro. Portanto, sugiro que você vá à uma boa livraria e adquira um bom livro sobre gestão financeira pessoal. A leitura o ajudará a se organizar melhor e não passar por nenhum tipo de sufoco financeiro.

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