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Não se lamente e comece a agir

Gutemberg B. de Macedo

Gutemberg B. de Macedo

Uma história de 40 anos de atuação no mercado, que se solidificou em uma empresa nacional, com filosofia e estratégias globalizadas.

“Quem espera sempre alcança, se trabalhar enquanto espera”.

Thomas Alva Edison (1847-1931)

Inventor, empreendedor e fundador da General Electric

Assim que recebe a informação de que foi demitido, o profissional tem no instante seguinte a grande oportunidade para empreender o planejamento e a gestão de sua vida e carreira. Ele deixa de ser o passageiro displicente, procrastinador e dependente da organização e passa a se portar como o piloto de seu próprio automóvel. Portanto, ele tem o controle de sua máquina e torna-se o único agente responsável pelo progresso de sua carreira. Dessa forma, ele não delega a gestão de sua carreira à empresa, ao chefe ou a própria sorte.  Lembre-se: Seu valor para o seu chefe ou organização é o de sua utilidade. Tão logo tenha sido vencida a sua validade, você é plenamente dispensável. 

É fato que muitas vezes o destino nos chicoteia, nos humilha e nos lacera como no momento da notícia de nossa demissão. Entretanto, é fundamental resistir a essa circunstância, manter a cabeça erguida e prosseguir com mais ânimo, disciplina, determinação e foco O profissional em transição de carreira nunca deve perder tempo lamentando inutilmente o passado ou mudanças que lhe causaram aborrecimentos, decepções e raiva, entre outros sentimentos.

Minha experiência profissional adquirida em quase 35 anos de carreira consultiva mostra que profissionais considerados dinâmicos, flexíveis, preparados, com atitude positiva e ampla rede de relacionamento têm mais oportunidades para se recolocar no mercado de trabalho do que aqueles que adotam um comportamento negativista, inflexível e despreparado. Na verdade, como sempre digo, um bom profissional nunca fica desempregado por muito tempo, por mais difíceis e recessivas que sejam as condições do mercado de trabalho.

O filósofo e poeta latino Lucius Annaeus Sêneca (4 a.C – 64 d.C), em seu trabalho De Providentia, escreveu com grande sabedoria um conselho valioso: “Devemos nos oferecer aos golpes do destino para nos fortalecer contra ele por ele mesmo; aos poucos ele nos fará iguais a si; a constante exposição ao perigo provocará o desprezo do perigo”. Sêneca continua em outro trecho do mesmo tratado: “Por que te espantas que os homens de bem, para que se fortifiquem, sofram golpes? Não existe árvore robusta nem vigorosa a não ser aquela que o vento castiga sem trégua, pois é para reagir à agressão que ela se torna compacta e finca as raízes mais firmemente: são frágeis as que cresceram em um vale abrigado. Portanto, é a favor dos próprios homens de bem, para que possam ser intrépidos, estar sempre às voltas com perigos pavorosos e suportar com tranquilidade os fatos que não são maus, a não ser para quem os suporta mal”.

Certa vez, ao escrever um artigo para um jornal de grande circulação, narrei a fábula da serpente, extraída do livro A Instituição Negada, do psiquiatra Franco Basaglia. Essa fábula oriental exemplifica o grau de escravidão – sim, a palavra é essa mesmo – a que muitos profissionais se submetem ao longo da carreira a ponto de perder a própria individualidade. Relata a história de um homem em cuja boca, enquanto ele dormia, entrou uma serpente. A serpente chegou ao seu estômago, onde se alojou e de onde passou a impor ao homem a sua vontade, privando-o assim da liberdade. O homem estava à mercê da serpente: já não se pertencia. Até que uma manhã o homem sente que a serpente havia partido e que era livre de novo. Então se dá conta de que não sabia o que fazer com a sua liberdade. No longo período de domínio absoluto da serpente, ele se habituara de tal maneira a se submeter às vontades dela que havia perdido a capacidade de desejar, de tender para qualquer coisa e de agir autonomamente. Em vez de liberdade, ele encontrara o vazio, pois juntamente com a serpente saíra a sua nova essência, adquirida no cativeiro. Não lhe restava mais nada a não ser lutar para reconquistar pouco a pouco o antigo conteúdo humano de sua vida. Quando a pessoa se deixa dominar completamente por uma organização e se torna a figura do “homem da organização”, ela se comporta como o profissional que engoliu a serpente, deixando de ser ela mesma e passando a adotar uma natureza totalmente diferente da sua.

É sabido que quando seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus, capitulam sua individualidade e identidade por vontade própria, também estão renunciando à sua reivindicação de serem humanos.  Nos negócios, como afirmou o bilionário norte-americano, J. Paul Getty (1892-1976), “um homem assim derrota seu próprio propósito”. O homem da organização permanece um jogador inexpressivo no que frivolamente gosta de chamar de equipe, em vez de tornar-se o capitão ou artilheiro. Nessa circunstância, muitos profissionais mascaram a serpente com o anjo mais belo que conseguem encontrar. Entretanto, como não há nada que dure pare sempre, um dia a serpente segue o seu caminho e eles não sabem quem verdadeiramente são e o que aspiram da vida e da carreira.

Há uma expressão do escritor norte-americano, Orison Swett Marden, que deveria servir de alerta a todo profissional: “Nada destroi mais a capacidade de andar com os próprios pés do que se apoiar nos outros. Se você se apoiar, nunca será forte ou original. Ande com os próprios pés ou desista de sua ambição de ser alguém neste mundo”.

O renomado psicoterapeuta Rollo May, em seu excepcional trabalho “Man’s Search For Himself” manifestou opinião semelhante sobre essa mesma matéria: “Os homens empalhados acabam por tornar-se ainda mais solitários, por mais que se apoiem nos outros, pois gente vazia não possui a base necessária para aprender a amar”. Caro leitor, nunca olhe para sua demissão, caso você seja vitimado por ela, como se fosse o fim de sua carreira.  Também nunca confunda o seu emprego com a sua vida. Se o fizer, quando vier a perdê-lo, você não será ninguém.

A demissão é uma oportunidade que Deus lhe dá para empreender um novo ciclo em sua vida pessoal, familiar e profissional. Há uma expressão neo-testamentária que diz: “Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus e pelos seus decretos são chamados”. Sim, sempre acreditei que nada na vastidão do universo se movimenta sem o consentimento de Deus. Até mesmo um simples fio de nosso cabelo não cai de nossa cabeça sem a sua permissão.  Portanto, a demissão não pode ser vista como um castigo, uma maldição do destino, entre outras avaliações negativistas, mas sim, como aquele empurrão que levamos para avançar e seguir em frente.

A transição de carreira é um período fascinante da vida. Portanto lembre-se antes de tudo dos seguintes aspectos:

  • Esse é um período de sua vida que exige trabalho de tempo integral, entre oito e 12 horas, todos os dias. Portanto, não desperdice seu tempo com atividades que não agregam valor a sua recolocação. Afinal, é do tempo que a vida é feita. Cada segundo conta nessa corrida. É o melhor momento para refletir sobre o seu passado, o presente e o futuro de sua carreira. Não tenha medo de se olhar no espelho e de ver aquelas coisas que não gostaria de ver. Todos nós temos as nossas vulnerabilidades – inabilidade política, baixo nível de inteligência emocional, pouca visibilidade no ambiente de trabalho, baixa tolerância para com aqueles que pensam diferente, liderança discutível, tendência à procrastinação, má administração do tempo etc. É preciso corrigi-las ou eliminá-las, antes que elas o sufoque. Incontáveis talentos e carreiras são destruídos em nossas organizações simplesmente porque os seus agentes nunca param para fazer um check up formal sobre as atividades que empreenderam ou empreendem – sejam elas boas ou más. Por outro lado, eles nunca tiveram um chefe que dialogasse de forma aberta e honesta e alertasse de que estão fazendo a coisa errada, que necessitam mudar esse ou aquele comportamento e adquirir novas competências, entre tantos outros alertas. Infelizmente, tenho encontrado muitos profissionais que nunca foram avaliados devidamente ao longo de suas carreiras. E o pior, eles nunca leram um livro sobre “Carreira Executiva”. Consequentemente, caminham nas organizações sem um GPS.
  • Para que você se torne um profissional de primeira classe é preciso exibir qualidades pessoais e profissionais que não são encontradas em outros profissionais. Não tenha medo de ser diferente. Seja o melhor em tudo o que faz. Atualmente, esse é o seu mais importante desafio.

A conquista de nova posição no mercado de trabalho exige alguns requisitos: planejamento, prática, foco, humildade, trabalho duro e inteligente, disciplina, persistência, criatividade, habilidade para lidar com decepções, raiva e frustrações, disposição e vontade para ver o melhor em você e saber vender sua experiência e potencial humano de maneira convincente, entre outras exigências.

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