A serra elétrica é ótima para cortar lenha para o fogo. Use a ferramenta da maneira incorreta, entretanto, e você poderá se machucar. Assim também é a internet para os que buscam um emprego. Ela é uma ferramenta poderosa, pode lhe ajudar em sua busca ou mantê-lo desempregado, dependendo de como é utilizada.
Matthew Mariani
“Ocupational Outlook Quarterly”
Verão de 2003, Vol. 47, Número 2
Em um mercado de trabalho altamente seletivo e competitivo, o profissional em transição de carreira deve utilizar todos os veículos de prospecção para o novo emprego a sua disposição – anúncios em jornais e revistas especializadas, netweaving, headhunters, agências de emprego, associação de ex-alunos, câmaras de comercio, sindicato patronal, feiras de negócios, broadcast letter -, entre inúmeros outros canais. Há um adágio popular, cujo primeiro registro escrito data de 1660 que reforça essa tese: “Não coloque todos os seus ovos na mesma cesta”. Entretanto, se ainda assim você desejar colocá-los em uma única cesta, certifique-se de mantê-la sob os seus olhos de maneira permanente e atenta, como frisou o escritor norte-americano Mark Twain (1835-1910) em versão cômica: “Coloque todos os seus ovos em uma única cesta – e olhe a cesta”.
Caro leitor, todos os veículos citados anteriormente podem ajudá-lo a conquistar o emprego de seus sonhos. Portanto, não despreze nenhum deles. Se o fizer, prolongará ainda mais a sua contratação. Nesse sentido, permita-me adverti-lo: cuidado para não se orientar apenas por aquilo que os outros dizem. Faça o seu trabalho. Sou com frequência abordado por profissionais em transição de carreira que desejam saber quais são os veículos de prospecção de novo trabalho mais eficazes. Costumo responder que não há um veículo melhor ou pior do que o outro. Tudo depende da circunstância, da área de trabalho, do mercado e do esforço empreendido pelo próprio candidato. Como escreveu Martin Yate, C.P.C., autor e consultor norte-americano consagrado,”…ninguém tem a garantia de contar com uma bala de prata. Qualquer pessoa pode prover a oportunidade ideal para você e seu futuro, então seu plano de ataque deve englobar quantas desses contatos quanto for possível e prático. Perseguir todas essas estratégias também possibilita que você alavanque seu esforço em networking contatando indivíduos com os quais você tenha uma conexão e solicitando que eles lhe apresentem às pessoas certas que o levem às posições específicas que você identificou”. (Knock ‘em Dead, 2009, pág.59).
Há aproximadamente quatro anos, assisti um diretor de uma importante empresa química norte-americana em seu processo de “Outplacement”, cuja experiência ilustra de maneira irrefutável nossa constatação de que não há um canal superior ou inferior ao outro. Paulo Pedrosa (nome fictício por razões confidenciais) fazia compras em um grande supermercado da zona sul de São Paulo durante um final de semana ensolarado. Nessa ocasião, ele estava totalmente à vontade – vestia uma bermuda estampada, camiseta e calçava um par de tênis colorido. Depois de percorrer diversas corredores e gôndolas, foi abordado por um executivo de renomada empresa francesa que procurava o setor de bebidas. Depois de alguns minutos de conversa, esse perguntou onde ele trabalhava e o que fazia da vida. Paulo não perdeu tempo. Tratou logo de vender o seu peixe, conforme orientado pela consultoria. Para sua surpresa, o executivo lhe perguntou: “Você pode me enviar o seu currículo via e-mail? Tenho urgência em recebê-lo. Preciso de um profissional com a sua experiência e qualificações”.
Paulo, ao voltar para casa, enviou o currículo conforme havia prometido ao então ilustre desconhecido. Quarenta e oito horas depois desse encontro informal e inesperado, ele foi chamado para uma bateria de dez entrevistas na empresa. Seu processo seletivo foi extremamente rápido e demorou apenas cinco dias, da primeira entrevista à sua contratação. Concluídas todas as exigências burocráticas de sua admissão, ele foi enviado para treinamento na Matriz, França, por um período de trinta dias.
Caro leitor, mais uma vez permita-me enfatizar: não há um único veículo de prospecção apenas. O seu mercado de procura de novo trabalho é o mundo. O seu novo empregador pode estar em qualquer lugar – na igreja, no clube social, no estádio de futebol, na fila do teatro, na câmara de comércio, na associação de ex-alunos, no avião, no metrô, no cabeleireiro, na alfaiataria, no supermercado, no cinema, no posto de abastecimento de gasolina, no aeroporto, no restaurante, na livraria de sua preferência ou num café qualquer. Portanto, quanto mais visível você for, melhor para você e para sua carreira.
É natural que nos dias atuais, com o avanço das mídias digitais, a internet acabe se transformando na principal ferramenta para busca de emprego. E a internet, com toda a sua extensão democrática e pluralista, é um dos mais poderosos e imprescindíveis canal para prospecção de novas oportunidades de trabalho. A contratação on-line é um dos meios mais inteligentes de atrair novos colaboradores. Estudos revelam que os sites de contratação contêm mais de 300 milhões de empregos e cinquenta milhões de currículos únicos, sendo que vinte milhões deles estão no Monster.com.
No Brasil temos inúmeros sites que oferecem milhares de oportunidades de emprego: www.vagas.com.br; www.curriculum.com.br; e www.catho.com.br (o maior deles), entre inúmeros outros. Você não pode desprezar a internet em seu processo de recolocação. Ele se torna cada vez mais imprescindível na busca por uma nova oportunidade de trabalho. A chave para seu sucesso na utilização da internet é fazer a coisa certa. Como adverte a consultora norte-americana L. Michelle Tullier, Ph. D., “Você deve tomar providências para proteger sua segurança pessoal, ganhar uma vantagem sobre a imensa concorrência e evitar ser sugado pelo espaço virtual, perdendo assim muito de seu tempo precioso”.
Em resumo: seja seletivo ao utilizar a internet e os sites de emprego e de empresas. Não se cadastre e não envie seu histórico profissional para qualquer site. Antes de fazê-lo, estude-os e pesquise-os em profundidade. Não acredite em sites que prometem verdadeiros milagres. Não existe esse tipo de coisa no mundo dos negócios, a menos que você deseja ser enganado e jogar o seu dinheiro na lata de lixo. É bom frisar que, a despeito das fantasias engendradas por muitos sites, mesmo assim você não deve ignorar a força da internet.
Nesse sentido, vale lembrar a observação feita por Don Tapscott, presidente da empresa de pesquisa e consultoria nGenera Innovation Network: “As organizações inteligentes se posicionarão como um empregador atraente para a geração internet, oferecendo blogs autênticos e sem censura criados por jovens empregados, uma página em formato wiki de “Perguntas frequentes” sobre contratação e um mecanismo semelhante ao do atendimento ao cliente para responder às perguntas dos candidatos por meio de consultas on-line em tempo real”. (Grown Up Digital, 2010).
Não tenho nenhuma dúvida a respeito das inúmeras vantagens oferecidas àqueles que desejam transformar a internet em parceira eficaz por ocasião de sua transição de carreira. Reconheço que esse é um canal extremamente competitivo e por meio do qual milhões de profissionais competem diariamente ao redor do mundo – 24 horas por dia, trezentos e sessenta e cinco dias por ano –, por uma vaga em alguma empresa. Portanto, essa realidade não pode ser esquecida em nenhum instante. Se ela for desprezada, as consequências serão demolidoras para o náufrago corporativo – desânimo, descrença, cinismo, depressão, descarrilamento da carreira…
Vejamos algumas das vantagens da internet para os náufragos corporativos:
- Você pode pesquisar e identificar novas oportunidades de trabalho em qualquer lugar do mundo – desde que de posse de um celular, Ipad, notebook, computador de mesa etc.
- Você pode submeter o seu histórico profissional a qualquer empresa, headhunter ou pessoa de sua rede de relacionamento a qualquer momento do dia ou da noite. Não há nenhuma restrição nesse sentido, exceto seu critério seletivo. Além disso, você pode contratar os serviços profissionais de um site de busca de emprego que trabalhará para você enquanto dorme, toma banho, se alimenta, se diverte, passeia, vai à igreja, joga seu esporte predileto ou mesmo se exercita na academia.
- Você tem ainda a vantagem de ter à sua disposição dezenas, centenas ou até mesmo milhares de oportunidades e vagas. Certamente você necessitará exercitar o seu bom julgamento nessas horas para escolher as vagas mais adequadas ao seu perfil. Afinal, nem toda posição ou empresa é boa para você.
- A internet pode ser um “refúgio seguro” para profissionais tímidos, sem confiança em si mesmos ou amedrontados. Eles não necessitarão abrir a boca no estágio inicial da prospecção por nova vaga. Eu, particularmente, conheço muitos profissionais que se utilizam desse expediente. É bom frisar que a vasta maioria se dá muito mal, porque o seu cântico não tem apelo.
Como tudo na vida tem o seu lado positivo e o seu lado negativo, não é diferente com o uso da internet. Ela apresenta também inúmeras desvantagens. Vejamos algumas delas:
- O profissional em busca de uma nova recolocação pode se tornar passivo em seu trabalho diário. Ele acha que pelo simples fato de enviar centenas ou milhares de currículos indistintamente para os diferentes sites, seu emprego estará garantido num piscar de olhos. É um engano. Como escrevi em trabalhos anteriores, o profissional jamais deve delegar sua busca de novo emprego a um site ou a qualquer outra pessoa de uma organização. Esse é um erro gravíssimo praticado por muitos. As consequências, como sabemos, são desastrosas. A recolocação nunca acontece. Infelizmente, inúmeros profissionais recorrem ainda ao pagamento de terceiros porque não querem fazer esse trabalho. Eles não acreditam em si mesmos e na própria competência para conquistar sua posição num mercado competitivo. Consequentemente, não desejam se expor. Sim, eles precisam urgentemente sair de sua “fortaleza” e se aventurar no mundo real e físico – participar de feiras, seminários, cursos, cocktails, câmaras de comercio, sindicatos patronais, igreja e clube social, e praticar netweaving, etc. Não se limite a seguir os passos de outros no meio da floresta. Encontre os seus próprios passos ou compre um helicóptero e voe sobre ela, conforme recomendou Alan Weiss, renomado consultor norte-americano.
- A recolocação profissional não acontece da noite para o dia. Não raro, pode demorar até meses, apesar do intensivo uso da rede mundial de computadores. Recentemente eu me deparei com a mensagem de uma profissional de recursos humanos no LinkedIn que me deixou pasmo e chocado. Na mensagem postada, ela dizia que estava procurando um novo emprego havia meses e que também estava cansada de enviar seu currículo para empresas e não obter nenhuma resposta. E concluiu sua mensagem com as seguintes palavras: “Estou desesperada. Não consigo ficar em casa. Preciso de um emprego urgente.” Pergunto: Que empresa oferecerá uma oportunidade de trabalho para alguém que está desesperada? Nos dias atuais, as empresas necessitam de pessoas equilibradas e seguras de si mesmas. Essa deve ser uma profissional sem nenhuma noção aparente de como o mercado de trabalho opera e como as empresas escolhem os seus colaboradores. Na primeira semana de junho de 2013 li com a atenção as palavras do ilustre editor de Veja e empresário Roberto Civita sobre como selecionava os seus colaboradores: “Procuramos homens e mulheres inteligentes e insatisfeitos, que leiam muito, sempre perguntem ‘por que’ e queiram colaborar na construção do Brasil de amanhã.” (Veja, Memórias de um Editor, 5 de junho, 2013, pág. 100). É bem provável que a profissional em questão estivesse apenas utilizando a internet como veículo de prospecção. Numa análise baseada apenas no que pude perceber do relato dela, acredito que não tinha um plano estratégico de recolocação e estava simplesmente fazendo o que a maioria faz – enviando diariamente dezenas de currículos às empresas sem nenhum foco.
- A competição é acirrada e os profissionais nunca sabem quem são os seus verdadeiros competidores. Tudo acontece nas nuvens. Com frequência advirto meus clientes sobre os cuidados que devem ter no uso da internet como, por exemplo, a escolha da empresa para a qual submetem o histórico profissional e a importância do follow-up após o envio do currículo e da carta de apresentação pessoal, entre outros aspectos. Sem essas providências que o tornam distintos dificilmente algo acontecerá.
- Você está exposto ao mundo. Portanto, sua privacidade vai para o espaço e a sua carreira pode ser investigada totalmente. Veja o que aconteceu com executivos ilustres e de empresas preeminentes recentemente: Jeff Taylor presidente da Monster.com colocou em seu currículo que tinha um MBA cursado na Universidade de Harvard, quando na verdade não tinha. O presidente-executivo da Veritas Software, Kenneth Lonchar, foi demitido depois de inventar um mestrado em administração de empresas na Universidade de Stanford.
- O diretor-executivo da Bausch & Lomb, Ronald Zarrella, perdeu seu bônus de fim de ano de mais de um milhão de dólares após sua organização descobrir que não cursou o mestrado em administração de empresas, como afirmou, na Universidade de Nova York. No Brasil, são inúmeros os profissionais que são pegos turbinando os seus currículos com diplomas que não têm, com cursos de MBA’s que nunca fizeram e com resultados que nunca conquistaram ao longo de suas carreiras. Não existe garantia absoluta de privacidade na rede mundial de computadores. Uma vez que você coloca uma informação, ela vai imediatamente para o mundo. A internet pode ser um aliado estratégico ou um inimigo voraz. Tudo depende de como você a utiliza em sua prospecção por nova oportunidade de trabalho.
Eis algumas das recomendações que costumo dar a todos os meus clientes em transição de carreira:
- Pesquise e avalie com sabedoria e em profundidade as empresas para as quais deseja enviar o seu currículo. Nem toda empresa é boa para você. Portanto, vá à procura apenas daquelas empresas que lhe despertam um imenso desejo de empreender carreira nelas.
- Escreva uma carta de apresentação – “a knock ‘em dead letter” – e anexe ao seu currículo. Lembre-se que cada vaga anunciada na Internet merece tratamento e linguagem específica. Portanto, cuidado para não cometer erros de português em sua redação mais importante e visível. Permita-me agora chamar em meu socorro a esse respeito, o editor de Veja e empreendedor bem-sucedido Roberto Civita quando escreveu: “Minha obsessão é a palavra exata, que defina exatamente o que você quer dizer. A palavra mal utilizada e a frase mal construída me deixam bastante incomodado. E-mail com erro me irrita. Hoje em dia as pessoas estão escrevendo de forma muito descuidada. Eu não mando nenhuma mensagem sem reler. É um respeito com o destinatário, da mesma forma que um texto jornalístico bem escrito e editado com cuidado é uma demonstração de respeito com o leitor.” (Revista Veja, Memórias de um Editor, 5 de junho, 2013, pág. 95). O desafio que todo profissional em transição de carreira enfrenta não é simplesmente elaborar um currículo ou uma carta de apresentação, entre inúmeros outros veículos de comunicação, e sim produzir argumentos e pensamentos úteis, capazes de atrair a atenção e a admiração de todas aquelas pessoas que receberão e lerão as suas correspondências.
- Nunca coloque o seu endereço e telefone residencial no currículo. Escreva apenas o seu e-mail. Afinal, você não deseja oferecer ao “diabo” uma oportunidade de ser pego. Lembre-se que você não tem controle dos dados oferecidos. O seu currículo passará pelas mãos de muitas pessoas.
- Nunca revele os números de seus documentos – carteira de identidade (RG), carteira de motorista, CPF, título de eleitor, conta bancária e de cartões de credito. Proteja-se, proteja-se e proteja-se. Nesse sentido, a advertência do consultor norte-americano Martin Yat, C.P.C., deve merecer sua atenção: “Tenha cuidado. Muitos websites de busca de emprego irão dizer a você que seu software cria um currículo perfeito e o protege, mas esse não é sempre o caso. Não dependa desses websites ou de serviços de distribuição de currículos para fazer o que você mesmo deve fazer. O tempo despendido criando um currículo eficiente é similar ao soldado que limpa seu rifle antes da batalha: ajuda a focar sua mente na tarefa à frente”. (James Yates, obra citada, pág. 61).