“Ao refletir sobre a forma como nos ensinaram valores, percebi que aprendi a valorizar o esforço e a exploração que antecedem o sucesso. Descobri que o fracasso e sua análise têm sido sempre mais interessantes para mim e que eu aprendo com eles. Não aprendo nada ao fruir o sucesso. Quando posso dizer honestamente ‘não sei’, começo a saber”.
Richard Saul Wurman
Fundador, “TED Conference,” 1984
“Information Anxiety”, 1989
A organização moderna torna-se a cada dia mais complexa, competitiva e cheia de armadilhas até mesmo para profissionais bem preparados e experientes. Daí a observação feita pelo renomado professor e consultor norte-americano, Warren Bennis, “Se você não está confuso nos dias atuais é porque você não sabe o que estar acontecendo ao seu redor”. Quando tratamos sobre a prospecção e conquista de nova posição no mercado de trabalho, a necessidade do preparo por parte dos profissionais se torna obrigação inegociável e prioritária. Nada, nada mesmo, substitui o preparo.
Infelizmente, mesmo diante da nova realidade do mercado de trabalho – extremamente competitivo e exigente em todos os sentidos – muitos profissionais não se preparam adequadamente como deveriam. Eles preferem a superficialidade e se conduzem como todos os demais. Consequentemente, além de não se destacarem durante as entrevistas, eles perdem as melhores propostas de trabalho. No íntimo, eles são adeptos da filosofia que diz: “É mais cômodo saber pouco do que saber muito”, como escreveu o crítico espanhol, M. Menéndez, La bufera, Visita a Fadin.
Todo profissional deveria se conduzir com originalidade, perspicácia e sabedoria durante uma entrevista. Afinal, se ele se comportar como todos os outros candidatos, por que razão a empresa deveria contratá-lo? Sócrates, filósofo grego (469-399 a. C.), com iluminada sabedoria, disse: “Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância”. À luz dessa verdade, pergunto: de que lado você prefere ficar quando procura nova oportunidade de trabalho? Do lado do “saber” ou da “ignorância”?
Caro leitor, para você saber como se conduzir e impressionar o entrevistador durante uma entrevista, não importa a sua posição e objetivos. Você terá de estar devidamente preparado em todos os sentidos – física, mental e espiritualmente, além de ter equilíbrio psicoemocional.
Nesse sentido, tenho em mente a observação feita pelo poeta e escritor irlandês, James Stephen, (1822–1886): “A originalidade não consiste em dizer o que ninguém disse antes, mas em dizer exatamente o que você pensa por si próprio”.
Observei ao longo de minha carreira que muitos profissionais desperdiçaram grandes oportunidades de trabalho simplesmente por desprezaram uma verdade incontestável: o mundo dos negócios pertence àqueles que se preparam diária e continuadamente. Não há sucesso duradouro onde não há preparo antecipado. E esse preparo tem um preço.
Caro leitor, imagine o que seria dos grandes cirurgiões, advogados, arquitetos, engenheiros, professores, homens de negócio, executivos, músicos, maestros e consultores renomados sem o preparo rigoroso e meticuloso. Eles jamais alcançariam o sucesso, a fama, a glória e o respeito que conquistaram ao longo da vida e carreira. Isso para não falar sobre a contribuição que dão à sociedade.
O mesmo podemos dizer do profissional que ambiciona conquistar novo emprego e, consequentemente, obter admiração e respeito dos entrevistadores. Nada, repito, substitui o preparo. Portanto, siga as palavras de Abraham Lincoln (1809-1865), ex-presidente dos Estados Unidos, “Eu me prepararei e as oportunidades surgirão”.
O preparo prévio para a entrevista exige os seguintes aspectos:
Autoconhecimento – Procure refletir e se questionar com profundidade: “Quem eu sou? Quais as minhas qualificações mais importantes? Quais as características de minha personalidade? Quais são as minhas vulnerabilidades mais acentuadas? Qual é o meu projeto de vida e carreira mais importante? Qual é o meu nível de visibilidade no mercado? Quais foram as minhas principais conquistas e como elas contribuíram para alavancar os negócios e a minha própria carreira? Quais são as minhas principais necessidades de treinamento e desenvolvimento? Que novas competências eu necessito desenvolver?” Faça essas e várias outras perguntas para ter um claro entendimento de quem é você realmente e quais seus objetivos profissionais e seus sonhos. Isso permitirá um preparo maior para a entrevista.
Conhecimento sobre o processo seletivo – É sabido que os entrevistadores são preparados pelas organizações a fim de identificar os melhores candidatos. Como escrevi certa vez num artigo para o site UOL, o processo seletivo não é inclusivo, mas eminentemente exclusivo. Isso significa que o entrevistador deseja separar o joio do trigo no momento da entrevista. Ele não quer contratar profissionais que em nada contribuirão para o desenvolvimento dos negócios. Gosto muito da observação feita por David F. D’Alessandro, ex-CEO da John Hancock Financial Services: “A janela da oportunidade pode ser estreita, mas o que está em jogo pode mudar para sempre o rumo da sua vida. E uma rápida avaliação sobre você em um desses momentos significa mais para sua carreira do que uma pilha de um metro de altura de análises de desempenho em seu arquivo pessoal. Portanto, é melhor você estar preparado”. (Career Warfare, 2003).
Pesquisa sobre empregadores em potencial – Muitos profissionais que buscam novas oportunidades de trabalho no mercado não têm paciência e disciplina para pesquisar em profundidade sobre as empresas em que desejam trabalhar. Eles preferem cortar o caminho. Essa é uma péssima estratégia, visto que ela acarreta prejuízos enormes na busca de uma nova posição. Eles vão ao mercado como se estivessem com antolhos nos olhos, ou seja, enxergam apenas aquelas informações que obtiveram no site da empresa ou na internet.
A condução de uma pesquisa profunda sobre as empresas se justifica: o candidato necessita adquirir uma visão completa sobre a empresa – qualidade de seus líderes, filosofia, valores, código de ética, imagem no mercado, nível de tecnologia, mercado de atuação – local, regional e global, principais produtos, principais competidores, planos de investimentos, dificuldades mais críticas enfrentadas pela organização, nível de saúde financeira, etc.
O entrevistador espera que o candidato tenha feito a sua lição de casa, ou seja, pesquisado e obtido o maior número possível de informações sobre a empresa. Se ele se restringiu apenas a colher algumas poucas informações, ele fatalmente será preterido em processo seletivo. Durante a entrevista, muitos candidatos são questionados se desejam fazer alguma pergunta ao entrevistador. Infelizmente esses profissionais costumam dizer que estão satisfeitos com as informações. E desperdiçam uma grande oportunidade. Na verdade, para o bom entrevistador, essas palavras significam algo como “eu não sei pensar”.
Além das informações acima mencionadas, o profissional necessita pesquisar ainda sobre outras questões não menos importantes como a natureza e as responsabilidades da posição, a quem ela se reportará, quantas pessoas liderará, orçamento anual que administrará, nível de interface com outros executivos no Brasil e no exterior, qualidades mais importantes necessárias para obter sucesso no exercício da função e desafios da posição, biografia dos entrevistadores, tendências no segmento de atuação da empresa, eventos que poderão impactar sobre os negócios como uma crise internacional ou intervenção governamental, novos concorrentes e tecnologias etc.
É recomendável ainda que o profissional em transição de carreira mantenha-se bem informado sobre tudo o que acontece ao seu redor. Portanto, é preciso manter-se atualizado por meio da leitura dos principais jornais e revistas do país e do exterior. Considero importante citar os mais importantes e que devem fazer parte da sua rotina de leitura:
- Jornais Valor Econômico, O Estado de S. Paulo, O Globo, O Correio Brasiliense e Folha de S. Paulo são obrigatórios. Além disso, é recomendável que o profissional leia jornais estrangeiros como The Wall Street Journal, The Financial Times. Como disse o filósofo Francis Bacon, conhecimento é poder.
- Revistas Veja, Exame, Você S.A., Época, Época Negócios, Harvard Business Review, HSM Managemente, The Economist e Business Week, entre outras. Escolha as de sua preferência.
É importante também procurar manter um relacionamento próximo com algumas instituições participando de reuniões de Câmaras de Comércio, entre elas Brasil x Estados Unidos, Brasil x Alemanha, Brasil x China e Brasil x França. Converse também com líderes de diferentes setores da economia nacional. Eles poderão fornecer-lhe valiosos “insights” sobre política, economia, mercado de trabalho, questões sociais e intelectuais, investimentos, ameaças, desafios, oportunidades etc.
Quanto mais preparado você estiver para enfrentar um processo seletivo, melhor para você e para sua carreira.
De tudo isso que expus neste capítulo, podemos concluir que é vital para sua carreira seguir as seguintes recomendações:
- Prepare-se. Nunca subestime a sua importância. Se o fizer, poderá pagará altíssimo preço.
- Pesquise profundamente sobre as empresas “target”. Nunca vá para uma entrevista sabendo de antemão que você não fez o exercício de casa. Você irá fracassar.
- Encare esse preparo como se fosse fazer um novo vestibular.
- Saiba tudo sobre a sua vida: berço e educação familiar, formação acadêmica, histórico de sua carreira, principais problemas que encontrou e como os resolveu ao longo de sua carreira, os principais erros que cometeu e como os corrigiu e prêmios que conquistou, entre outros eventos. Lembre-se que as indagações que lhe serão feitas cobrirão um extensivo período de sua vida.
- Prepare-se mental, psicoemocional e espiritualmente para fazer uma excelente entrevista, daquelas que deixam os entrevistadores verdadeiramente encantados com você.
Recentemente assisti uma profissional de comunicação e relações governamentais em sua transição de carreira, cuja história ilustra minhas recomendações. Durante um dos processos seletivos dos quais participou, ela encantou os seis entrevistadores de uma grande empresa multinacional do setor alimentício. Todos ficaram encantados com a sua experiência e nível de desempenho. Disserem que ela preenchia todos os requisitos da posição e que acreditavam que tinham encontrado a candidata ideal para a empresa. Em seguida perguntaram quando ela poderia começar.
Caro leitor, não seja negligente sobre essa questão. Afinal, se você demonstrar qualquer grau de fragilidade durante uma entrevista, você será o único prejudicado. De nada valerá culpar o mercado, a empresa ou o entrevistador. O melhor mesmo é você olhar para dentro de você e perguntar se fez o seu trabalho da melhor maneira possível. Se não o fez, lembre-se das sábias palavras de Ann Landers (1918-2002), colunista norte-americana de jornal e conselheira sentimental: “Ninguém jamais se afogou em seu próprio suor”.