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Aprenda a decifrar pessoas com as quais trabalha

Gutemberg B. de Macedo

Gutemberg B. de Macedo

Uma história de 40 anos de atuação no mercado, que se solidificou em uma empresa nacional, com filosofia e estratégias globalizadas.

A carreira executiva é uma jornada relativamente curta, porém complexa e cheia de armadilhas e surpresas de toda natureza. Por esses e tantos outros motivos, é preciso que todo profissional permaneça atento, a fim de não dizer: “Não consigo acreditar que não enxerguei os sinais — a maldade, a desfaçatez e a falsidade de colegas sentados ao meu lado; o olhar de censura do meu chefe; o descontentamento de alguns de meus subordinados; além do pesado jogo político de alguns colegas. Tudo estava diante de meus olhos, e eu não os enxerguei com clareza e nitidez. Como pude ser tão cego e tolo?”

Sim, é bem provável que você, leitor, já tenha ouvido palavras semelhantes ao longo de sua carreira e vida. Eu as escuto com muita frequência.

Baltasar Gracián (1601-1658), político, filósofo e padre jesuíta, ao escrever sobre esse assunto — decifrar pessoas — disse:

“Compreender os caracteres das pessoas com quem tratamos para conhecer as intenções. […] Saiba decifrar um semblante e interpretar a alma pelas feições; conheça o que sempre ri por falto e o que nunca ri por falso; resguarde-se do perguntador, porque ou é leviano ou explorador; espere pouco bem de quem é mal formado, pois este costuma vingar-se da natureza, e, tal qual ele pouco honra lhe ofereceu, pouca honra ele lhe dará.”

Perfis Comportamentais

O do Contra

O do contra, segundo David F. D’Alessandro, ex-CEO da John Hancock Financial Services, é tão pervertido quanto o bajulador, mas com efeito oposto. Ele sempre começa sua observação dizendo: “Deixe-me ser o advogado do diabo aqui”. Ele faz parte dos 10% da população de qualquer organização que acredita que a maneira de ser leal a si mesmo e de se distinguir dos demais é discordar de tudo que o chefe ou um colega tem a dizer. Em outras palavras, ele discorda pelo simples prazer de discordar.

O Bajulador

Certa ocasião, li que 70% dos colaboradores em uma organização são bajuladores. A maioria, obviamente, não sabe ou reconhece tal comportamento. Raciocinam para si mesmos que, com certeza, não são bajuladores.

O Melancólico

Este sempre augura infortúnios e os maldiz. Lembra-se somente do pior e não percebe o bem presente, vivendo a prever e anunciar o mal, o pior, a catástrofe. Afaste-se dele, pois é uma pessoa extremamente perigosa e, à semelhança de “Mother Mary”, quer arrastá-lo para o buraco que cavou.

Caro leitor, esteja sempre prevenido contra profissionais descorteses, teimosos, presunçosos, traidores, falsos, murmuradores e medíocres. Infelizmente, muitas dessas figuras desfilam diariamente em nossas organizações. A sabedoria humana e gerencial consiste em saber identificá-los, decifrá-los e proteger-se contra eles.

Vivemos em um mundo onde a convivência profissional se tornou um desafio tão grande quanto a própria competência técnica. Em meio a reuniões, prazos e demandas, a habilidade de compreender aqueles com quem trabalhamos pode determinar nosso sucesso ou nosso fracasso. Como disse Aristóteles: “O homem é, por natureza, um animal social”. Sendo assim, a inteligência interpessoal é uma das chaves para um ambiente de trabalho produtivo e harmonioso.

Muitos acreditam que basta observar comportamentos e falas para entender alguém, mas isso é um erro. Como escreveu Freud: “As emoções reprimidas nunca morrem. Elas são enterradas vivas e voltam mais tarde de formas piores”. Quantas vezes já lidamos com colegas cujas atitudes parecem contraditórias? Ora gentis, ora hostis, oscilam entre a simpatia e o desprezo. O que está por trás dessas mudanças?

Cada pessoa carrega consigo um histórico de experiências, crenças e valores que moldam suas reações. Para decifrá-las, não basta ouvir suas palavras — é preciso enxergar além do óbvio, captar nuances, entender motivações. No jogo corporativo, aqueles que conseguem interpretar corretamente as intenções dos outros saem na frente.

Compreender as pessoas não é apenas classificá-las, mas observar padrões e antecipar reações. Pequenos detalhes dizem muito:

  • Alguém que evita contato visual pode estar inseguro ou escondendo algo.
  • Um colega que sempre fala em tom apressado pode estar ansioso ou tentando mascarar a falta de preparo.
  • Quem interrompe constantemente pode ser dominador ou apenas aflito para expressar sua ideia antes de esquecê-la.

O escritor Dale Carnegie afirmava que “o nome de uma pessoa é, para ela, o som mais doce e importante que pode ouvir”. Pequenos gestos, como lembrar nomes, ouvir com atenção e mostrar empatia, criam uma ponte de confiança.

Daniel Goleman, estudioso da inteligência emocional, destaca que o sucesso não é apenas técnico, mas depende da capacidade de lidar com as emoções — próprias e dos outros. Quanto mais entendemos os sentimentos e motivações alheias, maior nossa capacidade de influência e liderança.

Decifrar pessoas não é apenas uma habilidade útil, mas uma necessidade estratégica. No campo profissional, a vitória não pertence apenas aos mais qualificados, mas àqueles que sabem interpretar o jogo humano.

Caro leitor, recomendo para sua leitura os seguintes livros:

  1. Decifrar Pessoas — Como entender e prever o comportamento humano, de Jo-Ellan Dimitrius.
  2. An Enquiry Concerning Human Understanding, de David Hume.
  3. Como Decifrar Mentes — A nova ciência para desvendar o que as pessoas pensam, querem e quem elas realmente são, de David L. Lieberman, Ph.D.

Redigido e postado por Gutemberg B. de Macedo, Presidente da Gutemberg Consultores.

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