A carreira executiva é uma jornada relativamente curta, porém complexa e cheia de armadilhas e surpresas de toda natureza. Por esses e tantos outros motivos, é preciso que todo profissional permaneça atento, a fim de não dizer: “Não consigo acreditar que não enxerguei os sinais — a maldade, a desfaçatez e a falsidade de colegas sentados ao meu lado; o olhar de censura do meu chefe; o descontentamento de alguns de meus subordinados; além do pesado jogo político de alguns colegas. Tudo estava diante de meus olhos, e eu não os enxerguei com clareza e nitidez. Como pude ser tão cego e tolo?”
Sim, é bem provável que você, leitor, já tenha ouvido palavras semelhantes ao longo de sua carreira e vida. Eu as escuto com muita frequência.
Baltasar Gracián (1601-1658), político, filósofo e padre jesuíta, ao escrever sobre esse assunto — decifrar pessoas — disse:
“Compreender os caracteres das pessoas com quem tratamos para conhecer as intenções. […] Saiba decifrar um semblante e interpretar a alma pelas feições; conheça o que sempre ri por falto e o que nunca ri por falso; resguarde-se do perguntador, porque ou é leviano ou explorador; espere pouco bem de quem é mal formado, pois este costuma vingar-se da natureza, e, tal qual ele pouco honra lhe ofereceu, pouca honra ele lhe dará.”
Perfis Comportamentais
O do Contra
O do contra, segundo David F. D’Alessandro, ex-CEO da John Hancock Financial Services, é tão pervertido quanto o bajulador, mas com efeito oposto. Ele sempre começa sua observação dizendo: “Deixe-me ser o advogado do diabo aqui”. Ele faz parte dos 10% da população de qualquer organização que acredita que a maneira de ser leal a si mesmo e de se distinguir dos demais é discordar de tudo que o chefe ou um colega tem a dizer. Em outras palavras, ele discorda pelo simples prazer de discordar.
O Bajulador
Certa ocasião, li que 70% dos colaboradores em uma organização são bajuladores. A maioria, obviamente, não sabe ou reconhece tal comportamento. Raciocinam para si mesmos que, com certeza, não são bajuladores.
O Melancólico
Este sempre augura infortúnios e os maldiz. Lembra-se somente do pior e não percebe o bem presente, vivendo a prever e anunciar o mal, o pior, a catástrofe. Afaste-se dele, pois é uma pessoa extremamente perigosa e, à semelhança de “Mother Mary”, quer arrastá-lo para o buraco que cavou.
Caro leitor, esteja sempre prevenido contra profissionais descorteses, teimosos, presunçosos, traidores, falsos, murmuradores e medíocres. Infelizmente, muitas dessas figuras desfilam diariamente em nossas organizações. A sabedoria humana e gerencial consiste em saber identificá-los, decifrá-los e proteger-se contra eles.
Vivemos em um mundo onde a convivência profissional se tornou um desafio tão grande quanto a própria competência técnica. Em meio a reuniões, prazos e demandas, a habilidade de compreender aqueles com quem trabalhamos pode determinar nosso sucesso ou nosso fracasso. Como disse Aristóteles: “O homem é, por natureza, um animal social”. Sendo assim, a inteligência interpessoal é uma das chaves para um ambiente de trabalho produtivo e harmonioso.
Muitos acreditam que basta observar comportamentos e falas para entender alguém, mas isso é um erro. Como escreveu Freud: “As emoções reprimidas nunca morrem. Elas são enterradas vivas e voltam mais tarde de formas piores”. Quantas vezes já lidamos com colegas cujas atitudes parecem contraditórias? Ora gentis, ora hostis, oscilam entre a simpatia e o desprezo. O que está por trás dessas mudanças?
Cada pessoa carrega consigo um histórico de experiências, crenças e valores que moldam suas reações. Para decifrá-las, não basta ouvir suas palavras — é preciso enxergar além do óbvio, captar nuances, entender motivações. No jogo corporativo, aqueles que conseguem interpretar corretamente as intenções dos outros saem na frente.
Compreender as pessoas não é apenas classificá-las, mas observar padrões e antecipar reações. Pequenos detalhes dizem muito:
- Alguém que evita contato visual pode estar inseguro ou escondendo algo.
- Um colega que sempre fala em tom apressado pode estar ansioso ou tentando mascarar a falta de preparo.
- Quem interrompe constantemente pode ser dominador ou apenas aflito para expressar sua ideia antes de esquecê-la.
O escritor Dale Carnegie afirmava que “o nome de uma pessoa é, para ela, o som mais doce e importante que pode ouvir”. Pequenos gestos, como lembrar nomes, ouvir com atenção e mostrar empatia, criam uma ponte de confiança.
Daniel Goleman, estudioso da inteligência emocional, destaca que o sucesso não é apenas técnico, mas depende da capacidade de lidar com as emoções — próprias e dos outros. Quanto mais entendemos os sentimentos e motivações alheias, maior nossa capacidade de influência e liderança.
Decifrar pessoas não é apenas uma habilidade útil, mas uma necessidade estratégica. No campo profissional, a vitória não pertence apenas aos mais qualificados, mas àqueles que sabem interpretar o jogo humano.
Caro leitor, recomendo para sua leitura os seguintes livros:
- Decifrar Pessoas — Como entender e prever o comportamento humano, de Jo-Ellan Dimitrius.
- An Enquiry Concerning Human Understanding, de David Hume.
- Como Decifrar Mentes — A nova ciência para desvendar o que as pessoas pensam, querem e quem elas realmente são, de David L. Lieberman, Ph.D.
Redigido e postado por Gutemberg B. de Macedo, Presidente da Gutemberg Consultores.