Todos nós, com muita frequência, julgamos outras pessoas sem conhecê-las bem. Avaliamos simplesmente pela aparência e dizemos: “Esta pessoa é boa”, “Aquela outra é estúpida”, “Aquela não merece confiança”, entre outros comentários infundados.
A cada minuto estamos fazendo julgamentos precipitados, falsos, indevidos e levianos. Quem nunca os fez que atire a primeira pedra.
Certa ocasião, li a seguinte admoestação:
“Antes de julgar a minha pessoa ou o meu caráter, calce os meus sapatos e perceba o caminho que percorri. Viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas, os problemas que enfrentei, as lágrimas que derramei, as alegrias que senti. Percorra as estradas que trilhei, tropece nas pedras em que tropecei e levante-se assim como eu me levantei. E então, só aí poderá me julgar. Cada um tem a sua própria história. Não compare a sua vida com a dos outros. Você não sabe como foi o caminho que eles tiveram que trilhar.”
Este conselho está em sintonia com o ensinamento do Talmud, que diz:
“Jamais julgue o seu próximo antes de ter estado em seu lugar.”
Cristo, o Redentor da humanidade, também exortou:
“Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho do teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?” (Sermão da Montanha, Evangelho de São Mateus 7:1-3)
A sabedoria e a prudência nos ensinam que não devemos nos precipitar em nossos julgamentos. Homens e mulheres mudam constantemente. Nós não somos os mesmos todos os dias. Assim como um rio de águas correntes, a cada novo dia, somos diferentes do que fomos algumas horas antes.
Leon Tolstói (1828-1910), renomado escritor russo, conhecido mundialmente pelo romance Guerra e Paz (1869), ao escrever sobre julgamento, disse:
“O homem que ontem era estúpido e se tornou inteligente, era mau e seu coração tornou-se bom. Assim por diante. Não se pode julgar outra pessoa, pois no momento em que a condenamos, ela já pode ter mudado.”
Ao longo de minha carreira, assessorei inúmeros profissionais que foram avaliados e julgados como incompetentes e, como consequência dessas avaliações, acabaram sendo demitidos.
Entretanto, a história pós-demissão desses mesmos profissionais provou o contrário:
- Um deles tornou-se vice-presidente de uma poderosa corporação europeia.
- Outro, presidente para a América do Sul de uma grande empresa multinacional.
Durante meus estudos teológicos, ao fazer a exegese da Carta de São Paulo, um trecho me marcou profundamente:
“Portanto, você que julga os outros é indesculpável, pois está condenando a si mesmo naquilo que julga, visto que você, que julga, pratica as mesmas coisas.” (Romanos 2:4)
Vivemos em um mundo onde a rapidez das decisões muitas vezes se sobrepõe à profundidade das análises. Em frações de segundos, formamos opiniões sobre pessoas, situações e oportunidades com base em percepções superficiais.
Mas até que ponto essa agilidade é benéfica? E quais os riscos que os julgamentos precipitados podem trazer para nossa vida profissional e pessoal?
De acordo com pesquisas em psicologia social, levamos apenas 7 segundos para formar uma primeira impressão sobre alguém.
O psicólogo Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, explica em seu livro Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar que nosso cérebro funciona em dois sistemas:
- Intuitivo e rápido
- Analítico e mais demorado
Muitas de nossas decisões iniciais são influenciadas pelo sistema intuitivo, que, apesar de eficiente, pode nos induzir a erros.
Quantas vezes você conheceu alguém e, com base em uma expressão, tom de voz ou aparência, tirou conclusões precipitadas? E quantas vezes essas conclusões estavam erradas?
🔹 Steve Jobs: No início de sua carreira, foi subestimado por seu estilo despojado e falta de formalidade. Poucos enxergavam nele um dos maiores visionários da tecnologia.
🔹 Albert Einstein: Durante a infância, seus professores acreditavam que ele tinha dificuldades de aprendizado. Mal sabiam que estavam diante de um gênio.
🔹 Oprah Winfrey: Demitida de seu primeiro emprego na televisão sob a justificativa de que “não servia para o meio jornalístico”. Hoje, é uma das maiores comunicadoras do mundo.
Esses são exemplos extremos, mas mostram como julgamentos iniciais podem ser falhos e limitantes.
Nas empresas, os primeiros segundos de um encontro podem influenciar uma contratação, uma promoção ou até um fechamento de negócio.
Executivos e líderes devem estar atentos para não permitir que viés inconsciente ou estereótipos comprometam escolhas estratégicas.
🔸 Contratações e promoções: Profissionais competentes podem ser descartados devido a fatores irrelevantes, como vestimenta ou sotaque.
🔸 Negociações: Um cliente ou parceiro pode ser subestimado por não demonstrar “presença” suficiente em uma reunião inicial.
🔸 Liderança: Gestores que se baseiam apenas em impressões rápidas podem perder talentos valiosos em sua equipe.
✔ Dê tempo ao tempo: Não se apresse para tirar conclusões. Permita que interações múltiplas complementem sua percepção.
✔ Busque evidências: Baseie suas decisões em fatos, não apenas em intuições.
✔ Desafie seus vieses inconscientes: Pergunte-se: “Por que estou tendo essa impressão? Estou sendo influenciado por preconcepções?”
✔ Esteja aberto a mudar de opinião: O julgamento inicial pode estar errado. Permita-se revisar suas avaliações.
No mundo corporativo e na vida, a capacidade de enxergar além da primeira impressão é um diferencial essencial.
Como bem disse Warren Buffett:
“Leva-se 20 anos para construir uma reputação e apenas cinco minutos para destruí-la. Se você pensar sobre isso, fará as coisas de maneira diferente.”
A mesma lógica se aplica à forma como julgamos os outros. Se queremos construir relações e tomar decisões mais acertadas, devemos ir além da superfície e buscar uma compreensão mais profunda antes de qualquer conclusão precipitada.
E você? Já foi surpreendido ao mudar de opinião sobre alguém depois de conhecê-lo melhor? Compartilhe sua experiência nos comentários!
Redigido e postado por Gutemberg B. de Macedo, Presidente da Gutemberg Consultores.